Título: Múltis voltam a investir em energia no País
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2006, Economia, p. B6

Enquanto investidores tradicionais fazem as malas e deixam o setor elétrico brasileiro, outros chegam para tentar suprir as necessidades do País. São empresas canadenses, americanas, italianas, espanholas e colombianas. Todas em busca de boas oportunidades de negócios num setor que fatura mais de R$ 100 bilhões por ano. A porta de entrada para a maioria dessas empresas tem sido a compra de usinas ou de linhas de transmissão já prontas. Entre elas estão Brascan, Enel, Interconexión Eléctrica (ISA), Montana Dakota Utilities (MDU) e Abengoa.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, inclui na lista de novatas fabricantes de equipamentos e empresas dos setores de combustíveis e agronegócio. Ele cita como exemplo a Cosan, um dos maiores produtores de açúcar e álcool do País, e a Dedini, fabricante de caldeiras e especialista em montagem de usinas. ¿O interesse desses investidores coroa o esforço feito com o novo modelo do setor elétrico brasileiro¿, diz.

Na área de geração, um dos investidores que despontam com grande apetite é a canadense Brascan Energética. A empresa controla no País 12 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), com capacidade total de gerar 206 megawatts (MW). Há ainda outras três usinas em construção em Goiás, Santa Catarina e Mato Grosso.

Até o fim deste ano, a empresa deve iniciar a construção de outras três unidades, diz o presidente da Brascan, Luiz Ricardo Renha. Segundo ele, a empresa está focada na ampliação do potencial de geração. ¿Mas a companhia revisa sua estratégia periodicamente e está sempre de olho nas oportunidades no País.¿

O mercado de PCHs também atraiu a atenção do grupo Enel, maior companhia de energia elétrica da Itália. No início de junho, o braço latino-americano da companhia comprou 11 centrais hidrelétricas do grupo Rede. As usinas têm capacidade para gerar 98 MW de energia e custaram à empresa R$ 450 milhões. A compra faz parte da estratégia da companhia de aumentar sua participação na geração de energia renovável em várias partes do mundo.

Mas não é só a energia renovável que atrai investidores. A americana MDU firmou parceria com Copelmi, Andrade Gutierrez e Eletrobrás para construir uma termelétrica a carvão no Rio Grande do Sul. A usina, chamada Seival, terá capacidade de geração de 550 MW e exigirá investimentos de US$ 800 milhões. Além disso, a americana faz parte do consórcio formado por Cemig e Brascan, que fechou acordo para comprar do Grupo Schahin cinco concessões de linhas de transmissão. Juntos, os empreendimentos somam 2.143 km.

Na área de transmissão, as espanholas Abengoa e Isolux surgem como as grandes concorrentes nos próximos leilões. No leilão do ano passado, elas jogaram pesado e ganharam dois lotes ofertados, que somam 1.134 km de extensão e R$ 1,2 milhão de investimento. Hoje, cada uma tem seis linhas de transmissão no mercado brasileiro.

Outra que acaba de estrear no Brasil é a colombiana ISA. A empresa ganhou a disputa pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep) e pagou R$ 1,19 bilhão, com ágio de 57,69%.