Título: Varig não cumpre ordens da Anac
Autor: Mariana Barbosa, Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2006, Economia, p. B11

Apesar da determinação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para a Varig retomar seus vôos, ontem a companhia operou apenas o serviço da ponte aérea Rio-São Paulo, além dos vôos Guarulhos (SP)/Manaus, Galeão (RJ)/Recife/Fernando de Noronha e RJ/SP/Fortaleza. Dentre os vôos internacionais, apenas os vôos de Frankfurt e Miami chegaram ontem pela manhã. Para ontem à noite, estavam previstas partidas para Frankfurt, Londres/Copenhague e Nova York. Hoje, a previsão da empresa é de retomar um vôo para Caracas e outro para Buenos Aires, com escala em Porto Alegre.

O cancelamento dos vôos provocou o caos nos aeroportos, com passageiros enfrentando horas de fila para conseguir remarcar os bilhetes para vôos de outras companhias aéreas. Dificuldade aumentada por ser alta temporada e os vôos estarem lotados.

Na sexta-feira, depois de a Varig anunciar que iria operar apenas na ponte aérea durante uma semana, a Anac determinou que a companhia retomasse imediatamente todos os vôos do plano de contingência, que incluem 14 cidades no Brasil e 11 no exterior. Após a determinação da Anac, a Varig anunciou a retomada progressiva do plano de contingência.

¿A empresa está cumprindo todos os vôos que ela anunciou que iria retomar a partir de ontem¿, declarou um porta-voz da companhia.

Procurado pelo Estado, o presidente da Varig, Marcelo Bottini, disse que não havia recebido a listagem de todos os vôos que decolaram ou foram cancelados em todo o País.

Passageiros de vôos cancelados com conexões foram os que mais sofreram ontem, pois tinham de enfrentar a fila do endosso a cada trecho da viagem. A catarinense Margaret Peiter saiu de Chapecó às 8 horas para São Paulo, num vôo da OceanAir, sem saber se ia conseguir cumprir a segunda etapa do vôo, para Porto Seguro. ¿Quando comprei a passagem era bem mais barato e não sabia que a companhia estava nessa crise toda¿, disse ela, que viajava com 8 familiares, sendo 3 crianças.

O publicitário gaúcho Marcos Oliveira não se conformava por ter sido seduzido duas vezes por passagens baratas ou pela possibilidade de viajar com milhas. ¿Estou me achando um grande burro, não deveria ter comprado essa passagem para Porto Alegre. Mas custava apenas R$ 170.¿ No mês passado, ele teve uma volta de Nova York cancelada e, para não ter dor de cabeça, acabou comprando um bilhete da TAM. ¿O barato, literalmente, sai caro.¿

Exaustos depois de um vôo de Juazeiro do Norte para São Paulo pela BRA, ontem no fim da manhã, o casal Jairo e Rita Marchi só pensava que já poderia estar em casa em Florianópolis há mais de duas horas. Mas estava dormindo sobre as malas enquanto aguardava ser realocado na TAM.

No Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, no Rio, a maior dificuldade foi sentida no endosso de bilhetes internacionais, já que os vôos de outras empresas estavam em grande parte lotados. No aeroporto, representantes do órgão de defesa do consumidor (Procon) orientavam os passageiros da Varig a pedir à empresa ajuda de custo para hospedagem e alimentação, caso o prazo para embarque em outra companhia ultrapassasse quatro horas.

ALEGRIA

Apesar dos transtornos, muitos passageiros estavam solidários com a Varig e satisfeitos com o desfecho da venda da companhia para a VarigLog. ¿Vou pegar a ponte aérea para o Rio. Além de estar em promoção, é um dinheirinho para ajudar a Varig¿, afirmou o jornalista Eduardo Brasil. ¿Paguei R$ 190, os concorrentes cobram R$ 300, R$ 400 cada trecho.¿

Apesar dos salários continuarem atrasados, a venda da Varig em leilão na quinta-feira deixou os funcionários da companhia animados. Nem mesmo a possibilidade de entrar em uma lista de mais de 8 mil demitidos era capaz de tirar o sorriso do rosto das atendentes da companhia. ¿Mesmo que sejamos demitidos, a gente está contente que a empresa irá sobreviver¿, declarou uma agente de viagem do balcão da Varig em Congonhas que preferiu não se identificar.

Depois de ter sido comprada pela VarigLog, a Varig conseguiu na Justiça de Nova York, na sexta-feira, adiar para o dia 14 de setembro o prazo da liminar que impede o arresto de aviões da empresa.