Título: Dos tempos dourados, só restam coleções
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2006, Economia, p. B12

Ah, os anos dourados da Varig. Colecionadores aficionados por aviação, em especial a brasileira, consideram esse período, entre as décadas de 60 e 90, um dos mais valiosos. Os menus sofisticados, as louças importadas, os cartões de segurança, os folhetos publicitários com anúncios das primeiras rotas são itens disputadíssimos para quem se dedica a colecionar a chamada memorabilia aérea.

O empresário Carlos Spagat, um apaixonado por aviação, focou sua coleção em menus e folhetos. Sua coletânea é tão extensa que não consegue precisar quantos itens reuniu até hoje. ¿Milhares¿, diz orgulhoso. Quantos são da Varig? ¿Milhares¿ também. É o maior colecionador de cardápios e folhetos do País.

Hoje, ele diz que coleciona esse material por motivação histórica, não por prazer. Depois de mais de 2 mil viagens pelo mundo, Spagat lembra com saudosismo da época em que os cardápios tinham um layout clássico e traziam pratos como lagosta, caviar, camarões. ¿A Varig já imprimiu menus com a data de cada vôo e as refeições a serem servidas em cada trecho. Um luxo¿, lembra. Acionista da empresa, hoje ele vê os cardápios e sente raiva.

¿A Varig moderna não representa nada para um colecionador.¿ Antes da reestruturação da companhia, ele lembra que tudo era muito bem feito, havia glamour, havia um diferencial. ¿Agora, não tem mais nada.¿

Apesar de não ser seu forte, Spagat também coleciona miniaturas de aviões. Uma delas tem 40 anos. Entre os modelos da Varig, esse é o mais valioso. O empresário encontrou o pequeno Boeing ¿abandonado¿ no banheiro de uma loja da companhia em Nova York. Trouxe para o Brasil, reformou e hoje usa para enfeitar sua sala, cheia de coleções. O escritório transpira aviação.

Aos 16 anos, Carlos Spagat criou uma revista especializada no setor aéreo, a Flap Internacional. Já está no ano 44. O acervo de fotos da revista é outro orgulho do empresário. Quantas são? ¿Milhares.¿ Ele se diz imbatível. Nem a Varig tem mais registros fotográficos do que a Flap. São mais de 5 mil fotos só da companhia brasileira.

Se depois de todos esses meses agonizando a Varig tivesse falido, todos esses itens colecionáveis teriam mais valor. Como o destino da companhia acabou sendo outro, continuam valendo, entre os colecionadores, os anos dourados. ¿As modernidades não têm valor agregado e existem em grande quantidade¿, explica o presidente do Clube do Manche, associação de colecionadores da área da aviação.

No site americano e-Bay, correspondente ao Mercado Livre no Brasil, há 74 ofertas de peças colecionáveis da Varig. É um número significativo, considerando-se que o site é internacional e que a TAM, por exemplo, tem apenas cinco itens listados.

Um vendedor entusiasmado com a possiblidade de falência da companhia escreveu o seguinte anúncio para um postal do MD-11 da Varig, a US$ 1,46: ¿Esta companhia aérea está à beira da falência. Garanta o seu cartão enquanto há tempo!¿

Entre os 74 itens, a oferta mais cara é uma correspondência aérea da Varig para Pelotas, de 1928, por US$ 80. A caneca comemorativa dos 60 anos da empresa custa US$ 20. O manual de treinamento do Boeing 727 sai por US$ 1 e o saquinho de enjôo, acredite, por US$ 6.