Título: Um toque de açúcar, outro de afeto e muita pimenta
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2006, Nacional, p. A14

Dura, mas gentil, indignada, mas generosa: eis a receita que a candidata Heloísa Helena vem seguindo com sucesso, nas andanças em busca de votos. "Sou um doce, eu só sou pimentinha com gente que não presta", avisou suavemente no início do debate. Mas, fiel à fórmula escolhida, emendou um minuto depois: "Sou o tipo de mulher que quando diz que faz, faz mesmo."

Várias vezes a candidata falou, encantada, de "carinho, beijos e flores" que recebe por toda parte. Mas deixou claro que "mulher tem dificuldade em ser mandada, às vezes até faz de conta, mas não gosta". Fez o tipo Passionária, a heroína da Guerra Civil da Espanha, ao prometer, convicta: "Não haverá calote!" - uma garantia que deu a quem tem títulos públicos do Brasil.

Minutos depois, a figura invocada já era uma Joana d'Arc, a santa libertária da França. Foi quando falou de seus "gritos de dor, queimando na Inquisição petista" - uma metáfora da perseguição que sofreu do PT pelas críticas que faz constantemente aos que a expulsaram.

Nas ironias ao presidente Lula, puxadas pelo apelido "sua majestade barbuda", também alternou fragilidade e ameaça. A queixa "Ah, minha Nossa Senhora, não me faça responder a esse homem..." foi logo temperada por "só tem que ter medo de mim cabra sem-vergonha." A candidata também definiu o Brasil de Lula na TV como "o país das maravilhas, só falta aparecerem Alice e o coelho". E fechou a conversa mostrando as "mãos de mãe e mulher trabalhadora que vão arrancar as cercas dos currais eleitorais".