Título: 'Sou a única candidata capaz de derrotar Lula no segundo turno'
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2006, Nacional, p. A14

A candidata do PSOL à Presidência, senadora Heloísa Helena (AL), disse ontem que se considera a única postulante ao Palácio do Planalto em condições de vencer o presidente e candidato à reeleição pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva. "Acho que sou a única candidata capaz de derrotar o presidente Lula no segundo turno. Imagina um segundo turno com o cinismo do Lula e a aquela gentileza do Geraldo Alckmin (o candidato do PSDB). Vai ser uma tragédia."

Heloísa Helena fez a afirmação no ciclo Eleições 2006 no Estadão, que entrevistou os principais candidatos à Presidência, com a exceção de Lula - que ainda não definiu sua participação.

A candidata do PSOL, que se referiu ao presidente como "majestade barbuda", admitiu ter sido "doloroso" o processo que culminou com sua expulsão do PT. "Hoje, ver a majestade barbuda tratar como companheiros todos aqueles que tentaram nos destruir ao longo da nossa história de vida não é uma coisa qualquer", observou.

Em duas horas de entrevista, Heloísa Helena afirmou ter convicção de que Lula sabia dos escândalos de corrupção, como o do mensalão, que vieram à tona no ano passado. "Eu estou dizendo isso por respeito à inteligência dele. Se eu tivesse do presidente uma visão elitista e preconceituosa, diria que ele nada sabia." E completou: "Lula é um homem brilhante para muitas coisas e inconseqüente para outras. Como é brilhante para muitas, sei que era impossível armar um esquema, com tantas ramificações, sem estar sob o comando direto dele. Isso seria impossível."

DUAS CARAS Para a ex-petista, Lula é "o típico mel na boca e bílis no coração: sorri pela frente e esfaqueia pelas costas". A candidata do PSOL assegurou não haver hipótese de voltar a fazer parte dos quadros do PT. "É ruim, hein?"

A respeito de seu ex-partido, disse que o que provocou "mais espanto foram os crimes contra a administração pública". "O mais difícil, para nós da esquerda - a senadora fazia parte da Democracia Socialista, uma corrente da esquerda petista -, foi isso, e não o debate ideológico", ressaltou.

Ela rechaçou ainda a avaliação de que sua candidatura se assemelha à de Lula em 1989, quando o petista era visto como uma alternativa no quadro político da época. "Deus me livre!", reagiu.

Heloísa também ironizou, com um "oxente", o suposto temor de Lula em enfrentá-la nos debates. Em seguida, desafiou seu ex-companheiro de partido para um debate cara a cara "de maneira civilizada". "Só tem de ter medo de mim cabra sem-vergonha", provocou.

Ao falar sobre um dos principais temas da campanha eleitoral, a segurança pública, Heloísa Helena criticou tanto Lula quanto Alckmin, que até o início de abril governava São Paulo. Afirmou que PT e PSDB foram irresponsáveis e Lula incapaz de um pacto em relação a um problema que atinge várias cidades brasileiras. Para a ex-petista, Lula vive "no país das maravilhas". "Só falta aparecer a Alice e o coelho."

Sobre a mais recente proposta do presidente, a de um entendimento nacional com vista a garantir a governabilidade de seu eventual segundo mandato, Heloísa Helena também reagiu com ironia. Para a senadora, a idéia de Lula é "conversa fiada". Ainda falando sobre Lula, disse respeitar "o passado e a infância do presidente, mas não o presente".

A candidata do PSOL foi entrevistada ontem à tarde pelos jornalistas Suely Caldas, Dora Kramer, Daniel Piza, Luiz Motta e Jander Ramon, do Grupo Estado.