Título: Debate sobre Líbano e Israel vira bate-boca na USP
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2006, Internacional, p. A22

Os ânimos se exaltaram ontem à tarde no debate "O Massacre de Israel sobre o Líbano e à Palestina" , no Sindicato de Trabalhadores da USP, o Sintusp, em São Paulo. O sindicato, cuja diretoria está ligada a tendências políticas de esquerda, defende o fim de Israel. A grande maioria das 180 pessoas presentes parecia concordar com isso. Os aplausos eram fortes para discursos contra o "imperialismo americano" e o "Estado terrorista de Israel". A União da Juventude Árabe para a América Latina (Ujaal) vendia camisetas do Hezbollah. Mas o representante da Ujaal, o libanês Ali Nakhalawe, disse que a entidade não é ligada ao grupo xiita.

Na mesa, só estavam pessoas que concordavam com o tema: dois diretores do Sintusp, Nakhalawe, Emir Mourad, da Confederação Árabe Palestina do Brasil, Valdo Mermelstein, militante socialista de origem judaica, e a pacifista judia Marília M. Hess. "Enviamos e-mails convidando a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), mas não responderam", disse uma diretora do Sintusp.

A tensão se instaurou logo no início, quando o professor do Departamento de Farmacologia da USP, Moacyr Aizenstein, que é de origem judaica, acusou o Sintusp de promover um debate viciado, pois os boletins de convocação já pediam o fim de Israel. "Provavelmente é por isso que a federação não enviou ninguém. Já há um prejulgamento. Isto não é debate", criticou. Logo depois ele se retirou.

O diretor do Sintusp Magno Carvalho anunciou que o sindicato entrará na Justiça contra a Fisesp por "denúncia caluniosa". Esta semana, a Fisesp pediu à Procuradoria-Geral do Estado que instaure inquérito policial contra o sindicato "por atos preconceituosos e discriminatórios contra a comunidade judaica". Num folheto, o Sintusp criticou os "genocidas judeus".

A Fisesp informou que recebeu convites por e-mail, mas recusou porque surgiram em cima da hora e "o tema era descabido". Henri Schipper, que disse ser voluntário da Fisesp, sugeriu que se faça um debate com representação eqüitativa. "Concordamos, mas só depois que a federação retirar os processos contra nós", reagiu o diretor do Sintusp Claudionor Brandão.