Título: Fracassa primeira tentativa de vacina brasileira
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2006, Vida&, p. A31

A primeira tentativa do Brasil de fabricar uma vacina contra o vírus H5N1, causador da gripe aviária, foi frustrada, pois a cepa enviada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou-se ineficaz, revelou ontem o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. A produção piloto de 20 mil doses já deveria ter sido concluída, mas testes feitos em seres humanos mostraram que a resposta imunológica foi insuficiente. O Brasil, porém, não desistiu. Responsável pela fabricação, o Instituto Butantã já aguarda uma nova cepa para recomeçar os trabalhos.

"Os testes revelaram que a quantidade de anticorpos produzidos pela vacina foi insuficiente", disse o secretário. Por causa disso, a nova tentativa vai ser feita com a inclusão de um adjuvante na vacina, ou seja, uma substância que aumenta o efeito protetor do imunizante.

No entanto, segundo o presidente do Instituto Butantã, Isaías Raw, não é possível dizer que os testes falharam. "Como ainda não apareceu a cepa da pandemia, essa pode ter proteção cruzada e ser eficaz para uma parte da população", diz. "O mundo tem de se organizar para fazer cinco ou seis vacinas diferentes."

Mesmo assim, se o Brasil, que já foi incluído pela OMS no circuito internacional de produtores de vacinas contra o H5N1, conseguir desenvolver um imunizante eficaz, as 20 mil primeiras doses anteriores ao processo de produção em larga escala não serão administradas na população, ficando restritas a testes.

AVES MIGRATÓRIAS

Questionado sobre a possibilidade de a gripe aviária chegar ao País em setembro, como já foi cogitado, Barbosa repetiu uma declaração citada muitas vezes desde o alastramento da doença na China: "Não se pode dizer que é impossível."

Ele explicou que a previsão deve ter sido feita com base no fluxo de aves migratórias no País, que vai de setembro a janeiro. "Com base nisso, poderia chutar e dizer que poderia chegar em qualquer mês neste período", ironizou, acrescentando que a Europa ocidental mostrou, com trabalho de contenção, que a chegada de uma ave com o vírus não é, necessariamente, risco à saúde pública.

O secretário ressaltou que as aves que chegam ao Brasil migram de lugares ainda não atingidos pela gripe aviária, ou seja, Canadá, Estados Unidos e Pólo Sul. De qualquer maneira, o ministério faz um trabalho de prevenção nos pontos de pouso, com coletas de sangue e monitoramento. O projeto de produção da vacina hoje em curso no Butantã será transferido para uma nova fábrica dentro da instituição, que deverá ser concluída até meados de 2007.

Na nova unidade, será produzido também o imunizante contra a influenza sazonal, atualmente importado da França. Com isso, o Brasil, que hoje usa anualmente em torno de 20 milhões de doses de vacina contra a gripe, conquistará autonomia. Além disso, poderá ampliar a oferta de vacinas e exportá-las para os países da América Latina ainda não alcançados pela multinacional francesa que vende para o Brasil.