Título: Para analistas, aumento de gastos ameaça a meta em 2007
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2006, Economia, p. B4

Analistas de bancos estrangeiros não gostaram nada dos resultados do setor público no Brasil em julho, que mostraram queda no superávit primário acumulado em um ano, para 4,33% do Produto Interno Bruto (PIB). Embora não acreditem que a meta de 4,25% do PIB esteja seriamente ameaçada, eles alertam que os crescentes gastos do governo põem cada vez mais em risco a situação fiscal a partir de 2007.

Paulo Leme, economista do Goldman Sachs, observou que o cumprimento da meta em 2006 não é a questão mais importante. "O desafio real é promover uma alocação eficiente de recursos através da redução da carta tributária e limitar as grandes transferências de recursos para alguns grupos alvos através do orçamento, o que estimula o crescimento", disse.

"Além disso, um superávit primário menor impede a redução mais rápida da relação entre a dívida e o PIB, desviando recursos do setor privado que financiariam investimentos."

Segundo Leme, os dados de julho ressaltam a "drástica expansão no gasto primário", que, de certa maneira, está ligada ao ciclo eleitoral. "Isso poderá tornar mais difícil para o próximo governo a manutenção do superávit em 4,25% do PIB, particularmente se o crescimento do PIB se desacelerar em conjunto com o menor ritmo de atividade global", afirmou.

Luiz Cezario, economista do HSBC, observou, que embora os resultados de julho tenham tido impacto neutro nos mercados brasileiros, novos declínios poderão causar maior preocupação. "Acreditamos que a meta fiscal será atingida novamente neste ano, mas a forte tendência de expansão nos gastos indica que o novo governo enfrentará dificuldades para manter um superávit primário alto por um horizonte longo se essa tendência não for revertida num futuro próximo", disse.

O economista ressaltou que outro ponto importante dos resultados fiscais foi o comportamento dos pagamentos de juros, que cresceram ligeiramente, de 7,9% do PIB para 7,96%, apesar da queda da Selic. Isso, segundo ele, foi causado principalmente pela política de fortalecimento de reservas em moeda estrangeira.

"Como o Brasil ainda tem déficits nominais, as compras do Banco Central nos mercados de câmbio precisam ser financiadas por emissões de dívida pública, provocando custos fiscais significativos, pois a taxa de juros paga pelo Tesouro ainda é muito superior à recebida pela remuneração das reservas."