Título: Bernanke vê riscos na globalização
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2006, Economia, p. B10

O ritmo de integração global sem precedentes pode elevar os padrões de vida e reduzir a pobreza no mundo, mas esses benefícios correm risco por causa do aumento das tensões geopolíticas e do protecionismo. O alerta foi dado ontem pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke.

"A escala e o ritmo atual da globalização não tem precedentes", disse Bernanke, na abertura do simpósio anual promovido pelo Fed de Kansas City. "Mas o progresso futuro da integração global não pode ser dado como garantido."

Analistas do mercado financeiro aguardavam ansiosamente o seu discurso, mas ficaram surpresos porque Bernanke não fez comentários sobre a política monetária. Ou seja, não deu pistas sobre o rumo da taxa básica de juros nos EUA.

Para Bernanke, "as mudanças econômicas e tecnológicas certamente vão encolher as distâncias efetivas nos próximos anos, criando potencial para melhoras contínuas na produtividade, no padrão de vida e, conseqüentemente, para a redução da pobreza global".

Entre os riscos citados pelo presidente do Fed estão as tensões internacionais e o avanço do terrorismo. Além disso, ele lembrou das oposições políticas e sociais à globalização e da substituição de trabalhadores decorrente de mudanças nas tendências do comércio.

Com sólida carreira acadêmica (antes de assumir o BC americano, era professor da Universidade de Princeton), Bernanke aproveitou o discurso de ontem para falar um pouco de história da integração econômica - a partir do Império Romano.

O presidente do Fed disse que é "natural" que os trabalhadores que perdem espaço na globalização queiram dar alguns passos atrás no processo. "O desafio para os excecutores de política monetária é assegurar que os benefícios da integração econômica global sejam suficientemente divididos. Os trabalhdores que perdem seus postos, por exemplo, devem ter o treinamento necessário para tirar vantagem das oportunidades que surgem."

Bernanke disse que a emersão da China, da Índia e do antigo bloco de países comunistas trouxe "grande parte da população da Terra" para a economia global. "A abertura econômica da China, que começou há menos de três décadas, está andando rapidamente e, mais do que isso, parece estar se acelerando", afirmou.

O presidente do BC americano ressaltou que uma das características mais recentes da globalização é o elevado nível de integração entre economias industriais maduras e países emergentes.

Bernanke observou que o pesado déficit em conta corrente dos Estados Unidos, hoje substancialmente financiado por dinheiro de nações emergentes, contrasta com os superávits obtidos pela Grã-Bretanha quando o país era a principal economia do planeta, no século 19.

Por enquanto, afirmou Bernanke, a extensão geográfica dos processos de produção é a mais avançada da história, uma tendência que, se mantida, pode levar a ganhos substanciais de produtividade.

Ele ressaltou que os fluxos de investimento direto estrangeiro para a produção são muito maiores hoje do que 50 anos atrás, uma tendência que foi estimulada pela liberalização do mercado de capitais.