Título: Peru e Equador aderem ao G-20
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2006, Economia, p. B14

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, anunciou ontem a adesão do Peru e do Equador ao G-20, o grupo de economias em desenvolvimento que atuam em bloco nas discussões do capítulo agrícola da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). A expansão do grupo acontece justamente em um período de suspensão das negociações e será efetivada durante o encontro de alto nível do G-20, marcado para 9 e 10 de setembro, no Rio. Para essa reunião, está confirmada a presença do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy.

"O G-20 vai chegar a G-23. Já mandamos os convites", afirmou Amorim, no Itamaraty, ao lado do ministro das Relações Exteriores do Peru, José António García Belaúnde. "A Rodada Doha não está morta. Está em compasso de espera por fatores políticos. Não estamos falando em uma diferença de US$ 30 bilhões. É bem menos que isso", completou, referindo-se ao custo das concessões - redução de subsídios agrícolas, principalmente dos Estados Unidos e da União Européia - para que a rodada seja concluída.

Para o chanceler do Peru, foi um "reingresso". De fato, Peru e Equador haviam se associado ao grupo logo que ele foi composto, durante a conferência da OMC de Cancún.

Mas debandaram, assim como Colômbia, Costa Rica, El Salvador e Turquia. Atualmente, o G-20 conta com 21 membros - os latino-americanos Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Cuba, Guatemala, México, Paraguai, Uruguai e Venezuela; os asiáticos China, Filipinas, Índia, Indonésia, Paquistão e Tailândia; os africanos África do Sul, Egito, Nigéria, Tanzânia e Zimbábue.

Com seu habitual otimismo, Amorim lembrou que, três meses depois do fracasso da conferência ministerial da OMC em Cancún, o encontro do G-20 em dezembro de 2003 "ajudou a relançar" a rodada. Desta vez, no Rio, acredita o chanceler, poderá gerar uma dinâmica equivalente.

"Daremos duas mensagens claras. Primeiro, os países em desenvolvimento não podem aceitar a hipótese da não-rodada. Segundo, a unidade do G-20 é maior que as matizes e as nuances das diferenças técnicas entre seus membros", acentuou, ao indicar que as posições diversas dos líderes, Brasil e Índia, sobre o tratamento a salvaguardas e a produtos agrícolas especiais não será suficiente para a desagregação do grupo.

Conforme o chanceler peruano, a decisão da representante dos Estados Unidos para o Comércio, Susan Schwab, de reiterar anteontem que seu país não apresentará uma proposta melhorada sobre os cortes nos subsídios domésticos - justamente a oferta esperada para mover as engrenagens da Rodada Doha - "tem a ver com o processo eleitoral". Ou seja, atendeu às expectativas do eleitorado americano para o pleito parlamentar de novembro. Os EUA insistem em reduzir o teto para o pacote de subsídios concedidos a seus agricultores para US$ 22 bilhões, quando o valor efetivamente aplicado por Washington é de US$ 20 bilhões. O G-20 reivindica US$ 12 bilhões.