Título: Presidente visita Banco do Brasil e servidores cantam 'olê-olá-Lulá'
Autor: Leonencio Nossa, Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2006, Nacional, p. A4

Momentos depois de distribuir beijos, ser cumprimentado e saudado com o jingle "olê-olê-olê-olá-Lulá-Lulá" pelos funcionários do Banco do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem de forma enfática o uso político das instituições bancárias federais. Em visita à sede do BB, ele atacou a "sanha de privatização", defendeu bons salários na instituição - frisando que os funcionários não são "marajás" - e negou ter empregado petistas e indicado políticos na Caixa Econômica Federal, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Banco do Nordeste e no Banco da Amazônia.

"Só chamo eles (presidentes de bancos) para perguntar se as coisas podem melhorar", disse Lula. "Em todos esses anos em que convivemos, nunca pedi a nenhum deles que colocasse um faxineiro, ascensorista ou assessor, só discutimos redução de juros e facilitação do crédito."

Durante rápido corpo-a-corpo no 20º andar da sede do BB, Lula pediu para os funcionários não fazerem greve e, com gestos, insinuou que eles parassem de cantar o jingle. Queria evitar uma possível reação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão que, na avaliação do Palácio do Planalto, está "rigoroso" no cumprimento das normas da campanha. Numa visita de Lula à Caixa, no último dia 4, o clima eleitoral foi ainda mais nítido.

Em discurso na sede do BB, o presidente não economizou ataques ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e ressaltou que, na gestão petista, o banco teve ganhos "extraordinários". "Não foram poucas as vezes em que as manchetes dos principais jornais, na época da sanha das privatizações, publicaram manchetes garrafais sobre prejuízos do Banco do Brasil", discursou. Ao contrário do que disse Lula, porém, foi na gestão Fernando Henrique que o banco foi saneado e passou a dar lucro.

No discurso, ele comentou que a imagem da instituição e dos funcionários também melhorou. "Vim aqui para dizer o seguinte: ninguém nunca mais chamou vocês de marajás. Vocês nunca viram ninguém do governo descarregar em funcionário do Banco do Brasil discurso de que ele ganha bem." E salientou que bons funcionários precisam ser bem pagos.

PÚBLICO-ALVO Lula fez questão de destacar ações do Banco do Brasil que beneficiam especialmente as camadas mais pobres, como o microcrédito, o crédito consignado e os créditos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). De acordo com o presidente, esses três programas disponibilizam hoje R$ 25 bilhões. "Não é pouca coisa", pontuou.

"Se depender de minha vontade, enquanto eu for vivo quero ver todo ano a notícia de que o Banco do Brasil ganhou um pouquinho de dinheiro a mais", frisou Lula, no discurso. "Triste será o dia em que uma manchete sair com a informação de que o Banco do Brasil teve prejuízo e o Tesouro teve de aportar dinheiro para salvá-lo, como aconteceu muitas vezes."

O presidente avalia que a população vem percebendo as ações do seu governo. "O povo está sentindo na pele que as coisas estão melhorando. Ele está tendo acesso e conseguindo chegar e ser atendido em bancos públicos", disse.

Ao defender os programas destinados à população de baixa renda, Lula salientou que a instituição e outros bancos públicos também saem ganhando com esse tipo de orientação. "Está provado que o Banco do Brasil não precisa emprestar muito dinheiro para poucos para ganhar dinheiro. O banco pode emprestar pouco dinheiro para muitos e ter um ganho extraordinário."

Lula disse que não era hábito dos ex-presidentes visitar as instituições bancárias federais - ignorando que Fernando Henrique foi ao BB, em 1998. Como hoje, era período eleitoral.

Antes do discurso, a direção do BB exibiu um vídeo com ações sociais da Fundação Banco do Brasil. Em uma das cenas, o agricultor Manoel de Antão, de Quixadá (CE), disse que no governo Lula conseguiu empréstimo do BB. Diretor do banco, Luiz Osvaldo Santiago Moreira completou, também em tom eleitoral: "A gente espera construir um novo Brasil."