Título: 'Vou cortar impostos e fazer o País crescer', promete Alckmin
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2006, Nacional, p. A10

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, afirmou ontem, no auditório do Estado, que vai "reduzir impostos, controlar com mão de ferro o ajuste fiscal e fazer o País crescer". Ele disse que, se eleito, vai aproveitar "o empuxo das urnas" e propor ainda em janeiro a unificação do ICMS - e, numa segunda etapa, a instituição do Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Alckmin considera que "a má qualidade do gasto público tem afetado o País" e avalia que maior firmeza no ajuste fiscal "permitiria uma política monetária melhor". O tucano abriu o ciclo de entrevistas Eleições 2006 no Estadão.

Alckmin, que viveu na pele a guerra fiscal como governador de São Paulo, disse que a unificação do ICMS não vai causar problemas entre os Estados. Para ele, a definição de que a cobrança deve ser feita no local de consumo, e não no de origem do produto, pacifica a briga entre os antigos litigantes. Depois a unificação estaria garantida, pensa o candidato, pois seria regulada em lei federal, o que impediria modificações pelos Estados e fecharia a porta para novos episódios de guerra fiscal.

PAISAGEM DE DESERTO Para ele, a redução da carga tributária brasileira - o dobro da argentina e da mexicana - dará mais competitividade aos exportadores. O tucano disse que a sobrevalorização do real está afetando duramente as empresas de setores exportadores, como o calçadista, o têxtil e o de brinquedos. "Estamos exportando produtos primários, como minérios", criticou, atacando um dos discursos mais candentes do governo Lula, o do aumento das exportações. "A paisagem industrial brasileira vai virar um deserto."

O tucano não quis revelar para que nível, se eleito, reduziria a carga tributária, mas afirmou que o corte das despesas do Estado é que determinará a dimensão e a velocidade da redução de impostos. Ele criticou o atual governo por diminuir o investimento público para 0,4% e disse que, se eleito, vai elevar esse patamar para até 2% do PIB.

Nas regiões menos desenvolvidas, ele planeja "investir pesado" para compensar o atraso causado pela desigualdade. No caso do Nordeste, disse que vai reabilitar a Sudene para planejar e executar uma política de desenvolvimento com esses moldes. O dinheiro que financiaria o aumento do investimento viria da redução do gasto público - inclusive com uma drástica diminuição do número de ministérios e dos cargos em comissão - e das parcerias público-privadas (PPPs), que o governo Lula teve dificuldades para pôr em prática. Em São Paulo, insistiu, a linha 4 do metrô está sendo construída mediante uma PPP (na terça-feira uma greve de protesto dos funcionários do metrô contra essa PPP paralisou a capital).

PROBLEMAS NO CÂMBIO Alckmin disse ser favorável à autonomia do Banco Central e ao câmbio flutuante, mas advertiu que a política cambial do governo Lula está equivocada. "O câmbio vai dar problemas", ressaltou. O candidato do PSDB afirmou que o governo está comprando US$ 5 bilhões por mês para segurar a cotação do real. "O governo está queimando dinheiro."

O tucano também pregou a total autonomia das agências reguladoras e disse que vai garantir a segurança jurídica dos contratos como forma de encorajar o fluxo de capitais para o País. Garantiu que sua política externa seguirá o mesmo princípio e, por isso, vai acionar o governo boliviano de Evo Morales nos tribunais internacionais para preservar o direito brasileiro - que, a seu juízo, foi prejudicado na intervenção militar que atingiu as refinarias da Petrobrás e de empresas privadas na Bolívia.

Alckmin afirmou que a política externa do governo Lula é "bem-intencionada", mas apresenta "resultado zero". Ele criticou as sucessivas derrotas que o Brasil teve em disputas por postos internacionais (ONU, OIC, BID).

Ele acusou o governo Lula de praticar "uma corrupção jamais vista na história da República" e antecipou que lançará, na semana que vem, um pacote para prevenir irregularidades, propondo alterações no modelo dos convênios do governo federal e outras medidas administrativas. "Ética não é só não roubar e não deixar roubar, é também ter eficiência", observou.

O ciclo de entrevistas Eleições 2006 no Estadão prossegue amanhã com o candidato do PDT à Presidência, Cristovam Buarque. Leitores e internautas que queiram comparecer à entrevista ou enviar perguntas ao candidato devem fazê-lo na página www.estadao.com.br.