Título: 'Ataque do PCC é reação à ofensiva do Estado'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2006, Nacional, p. A11
O candidato Geraldo Alckmin disse ontem, no auditório do Estado, que, se o governo do Estado não tivesse prendido tanta gente e não tivesse sido duro com os líderes do crime organizado, não teriam ocorrido as ondas de violência. Essas ondas, segundo ele, foram justamente a reação dos criminosos à ofensiva do governo estadual. O tucano garantiu que o crime organizado ficou enfraquecido. Eis passagens de vários temas na entrevista de Alckmin:
CONSTITUINTE EXCLUSIVA Não entendo nenhuma lógica em convocar uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política. Constituinte é um pacto novo que se faz no País e não há nenhum fato que justifique um novo pacto. A nossa Constituição tem apenas 18 anos e não há nenhum sentido nesse "mudancismo" de a toda hora querer fazer uma nova Carta Magna. Isso paralisaria o País.
EDUCAÇÃO Fizemos um esforço grande na questão da educação e pretendemos priorizar a educação básica. Nossa meta é universalizar o ensino médio, trabalhar para melhorar a qualidade da educação básica e trazer de volta aqueles alunos que deixaram de estudar.
ÍNDICES DE MORTALIDADE Na saúde, se compararmos o Brasil com nossos irmãos latino-americanos de mesma renda per capita, vamos verificar que os nossos índices são muito ruins, tanto na mortalidade infantil, quanto na expectativa de vida média, quanto, e principalmente, na mortalidade materna.
REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL A rede de proteção social foi criada no governo do presidente Fernando Henrique e tinha uma contrapartida. O que está errado é acabar essa contrapartida. Você recebe uma quantia, mas tem o compromisso de levar a criança ao posto de saúde, ver vacina e controle de peso.
GOVERNO NÃO FUNCIONA Temos um governo que não funciona sob o ponto de vista da gestão. Não tem uma obra andando, a não ser tapa-buraco. São 2 mil obras paralisadas. Não há governo. Sob o ponto de vista de crescimento, o Brasil perdeu todas as oportunidades. Qual o sonho, a não ser o poder?
REDUÇÃO DA CRIMINALIDADE O Estado de São Paulo reduziu todos os seus índices de criminalidade, todos. Os homicídios, que eram em torno de 12.800 em 2004, caíram para 7.200 em 2005 e este ano serão menos de 7 mil. Os latrocínios tiveram uma queda de 72%. Nós tiramos das ruas 90 mil criminosos.
NÚMERO DE PRESOS Na maioria dos Estados, cresce muito pouco o número de presos. São Paulo passou de 55 mil para 143 mil presos. Temos 22% da população brasileira e 43% da população carcerária.
SEGURANÇA MÁXIMA Criamos as penitenciárias de segurança máxima, o Brasil nunca teve isso. Tanto é que, quando ninguém tinha onde colocar o Fernandinho Beira-Mar, ele veio para cá para ficar 30 dias e ficou dois anos e meio. Ficou quieto aqui, ninguém nunca mais ouviu falar dele.
LÓGICA DO BANDIDO Instituímos o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). O crime organizado quer o quê? Fazer retroceder o RDD, comandar as penitenciárias e corromper funcionários. Não tem lógica bandido atacar a polícia. Qual a lógica do bandido? Passar longe da polícia, ter o menor risco e o maior benefício material possível. O que ele ganha tocando fogo num ônibus? Nada. O que ganha dando um tiro num posto de gasolina? Nada. O que ganha dando tiro na polícia? Nada.
TERRORISMO ELEITORAL O resultado foram 600 presos e 100 mortos em quatro meses. Por que isso aconteceu? Porque o crime organizado precisa ser desmontado. E você desmonta com o RDD, isolando essas lideranças. Mas é óbvio que eles querem interferir no processo eleitoral. Qual é a lógica de bandidos seqüestrarem uma pessoa para colocar uma fita na televisão? Isso não tem o menor sentido, isso é puro terrorismo político-eleitoral.
A PAZ DOS PÂNTANOS Se o governo não tivesse feito nada disso, essas organizações estariam vivendo a paz dos pântanos, mas estariam organizadíssimas. Com esse enfrentamento duro, as organizações vão ficar muito enfraquecidas e o governo vai cumprir sua tarefa.
CRIME SEM FRONTEIRA Esse problema de segurança é de todas as grandes cidades. Crime não tem fronteira. O presidente tem de assumir essa tarefa como sendo responsabilidade do governo brasileiro.
O QUE FAZER? Primeiro, rever a legislação, que é toda federal. Hoje, o que faz a lei? Ela é muito dura com o pequeno. Podemos ter uma progressão de pena mais rápida e não precisaremos manter tantos presos. Segundo, ser duro com o crime organizado. A atual lei, de 2003, sancionada pelo presidente Lula, abrandou para o crime organizado. Nós pegávamos um criminoso perigoso e colocávamos em RDD, sem precisar de autorização judicial. Agora a lei manda ouvir antes o juiz.
O QUE PRETENDE MUDAR Vou mudar a Lei de Execuções Penais, rever o Código de Processo Penal, o Código Penal. Fortalecer o policiamento de fronteira com as Forças Armadas e a Polícia Federal, e liberar recursos para os Estados. São Paulo investiu, nós temos 130 mil policiais, o que é três vezes a Aeronáutica, duas vezes a Marinha e daqui a pouco é maior que o Exército.
QUARTO ESCALÃO São Paulo abriu 70 mil vagas nas cadeias. Os criminosos estão todos em RDD. Quem está cometendo crime aqui fora é o quarto escalão.
PCC SEMPRE EXISTIU O PCC não surgiu agora. Sempre existiu organização criminosa na cadeia. O diferente é que aqui ele é enfrentado. Se o governo não tivesse sido duro, não teria nada do que está acontecendo.
LADOS O meu lado é contra o crime. Tenho disposição para enfrentá-lo.
CASO SANTO ANDRÉ A questão de Santo André gera enormes suspeitas. Agora, não se pode fazer uma acusação sem prova. É preciso ter cautela nessas coisas porque não podemos dar um caráter político.