Título: Pesquisadores localizam ponto fraco no vírus da gripe aviária
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2006, Vida&, p. A21
Cientistas que pesquisam o vírus da gripe aviária identificaram um potencial ponto fraco em sua estrutura que pode ser alvo de novos medicamentos, neutralizando sua ação.
Enquanto mapeavam a estrutura do H5N1, a cepa mais letal da doença, uma equipe do Instituto Nacional para Pesquisa Médica de Londres descobriu que a neuraminidase tipo 1, a parte do vírus definida como N1, tem uma cavidade. A neuraminidase é a proteína que permite ao vírus se espalhar para outras células do organismo.
Os pesquisadores britânicos acreditam que é provável que a cavidade seja o local ideal para que novas drogas se prendam ao vírus a fim de inibir sua disseminação. "Isso oferece um alvo que era desconhecido por nós", comemorou Michael Perdue, um especialista em gripe aviária da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A gripe aviária é uma das influenzas causadas por 16 combinações de hemaglutinina - a aviária é a H5 - e nove de neuraminidase. No desenvolvimento de drogas, os especialistas focam justamente a neuraminidase, uma vez que a hemaglutinina é mais difícil de atacar.
CALCANHAR-DE-AQUILES A descoberta, descrita hoje na revista Nature, dá aos cientistas a chance de explorar de novas maneiras o calcanhar-de-aquiles de um vírus agressivo que, nos últimos três anos, já matou 139 pessoas de um total de 238 vítimas infectadas em dez países, segundo números oficiais da OMS.
A descoberta só foi possível por meio da utilização de tecnologias avançadas de raios X para fotografar os átomos e moléculas da superfície protéica do vírus. A próxima fase é o desenvolvimento, pelas companhias farmacêuticas, de remédios concebidos especificamente para se conectar à cavidade e sabotar o H5N1.
Embora o surgimento de medicamentos plenamente capazes de deter o avanço da doença ainda possa demorar de três a cinco anos, a conclusão do estudo "topográfico" do N1 é a primeira boa notícia na luta contra uma patologia que pode evoluir para uma pandemia.
REFORÇO DE ARSENAL Os remédios disponíveis hoje são baseados em outros modelos de neuraminidase não específicos ao H5N1.
Para reduzir o risco de que o vírus desenvolva resistências, John Skehel, coordenador da equipe responsável pela descoberta, disse que as novas drogas podem ser ministradas junto com o Tamiflu e o Relenza, considerados hoje os remédios mais eficazes contra a doença.