Título: Israel foi imoral no Líbano, diz ONU
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2006, Internacional, p. A14
O chefe de Assuntos Humanitários da ONU, Jan Egeland, qualificou ontem de "imoral" a decisão de Israel de lançar bombas de dispersão nos últimos dias de sua ofensiva militar no Líbano. Egeland alertou que um grande número delas não explodiu, o que põe em perigo a vida dos libaneses que retornaram para suas casas.
Desde que o cessar-fogo entrou em vigor, no dia 14, a explosão dessas bombas matou 13 pessoas no Líbano (incluindo 3 crianças) e feriu 46.
As bombas de dispersão contêm dezenas ou até centenas de explosivos. Durante o lançamento, pela aviação ou artilharia, essas munições se espalham por amplas áreas. Embora seu uso não seja ilegal pelas leis internacionais, elas acabam provocando grandes danos à população civil.
Em cerca de 85% do sul do Líbano, existem munições sem explodir, incluindo cerca de 100 mil bombas de dispersão lançadas em pelo menos 359 localidades onde a ONU já registrou sua presença, de acordo com o balanço da organização. "O que é chocante e, para mim completamente imoral, é que 90% dessas bombas foram lançadas nas últimas 72 horas do conflito, quando se sabia que havia uma resolução (do Conselho de Segurança) para pôr fim à guerra", declarou Egeland.
O índice de falha na explosão das bombas de dispersão lançadas por Israel - disse Egeland - foi muito elevado. Normalmente, de 10% a 15% desses artefatos não explodem e se tornam um perigo para a população civil depois que os conflitos terminam. No caso israelense, pesquisadores que fizeram um levantamento no sul do Líbano estimaram que até 70% deixaram de funcionaram, o que provavelmente pode ser explicado por serem bombas muito velhas.
Steve Goose, da entidade Human Rights Watch (de defesa dos direitos humanos), comentou com os jornalistas em Genebra que esse tipo de arma também pôs em perigo os civis nas guerras no Afeganistão, Iraque e Kosovo, quando usada pelos EUA, Grã-Bretanha e outros países. Mas Israel usou uma densidade muito maior do que em outros lugares em conflitos. "Nossos pesquisadores também descobriram que Israel empregou uma variedade muito grande de bombas de dispersão", disse Goose. O governo israelense não comentou o assunto ontem.
COMPENSAÇÃO
O primeiro-ministro do Líbano, Fuad Siniora, anunciou ontem que o governo pagará uma compensação de US$ 40 mil para cada pessoa cuja casa tenha sido destruída pelos bombardeios israelenses. O dinheiro se destina à reconstrução das moradias e compra de mobiliário. A oferta exclui os bairros do sul de Beirute, a região onde a destruição foi maior, porque o grupo xiita Hezbollah já começou a entregar US$ 12 mil para ajudar cada família a se manter por um ano, até que suas residências sejam reconstruídas.
Em declarações à imprensa antes de partir para a Suécia, onde toma parte, hoje, de uma conferência de arrecadação de fundos para o Líbano, Siniora estimou que 130 mil casas em todo o país foram destruídas ou danificadas pelos ataques aéreos. Cerca de 50 mil dessas moradias estão no sul de Beirute, onde ficava a sede do Hezbollah, calcula o governo. A maior parte do restante fica no sul. Nos cálculos do Hezbollah, porém, cerca de 7 mil residências foram destruídas no sul de Beirute e 9 mil no resto do país.
O governo libanês vem sendo criticado por não ter agido rapidamente para compensar as vítimas da guerra enquanto o Hezbollah já começou a distribuir ajuda duas semanas atrás.
Siniora disse que o governo ainda estuda como compensar os proprietários de lojas, fábricas e escritórios alvo de bombardeios.