Título: Espanha critica lentidão da UE para conter ilegais
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2006, Internacional, p. A18

A Comissão Européia pediu ontem aos países membros da União Européia (UE) que dêem à Espanha maior ajuda prática para conter o crescente fluxo de imigrantes ilegais que chegam em barcos às Ilhas Canárias, território espanhol. Apesar do apelo, a própria entidade não prometeu ajuda.

A vice-primeira-ministra da Espanha, María Teresa Fernández De la Vega, em visita a Bruxelas, disse que a ajuda da UE é muito pouca. De la Vega também criticou a lentidão para aplicar as medidas comunitárias urgentes decididas em maio para conter a onda de imigração ilegal sem precedentes às Ilhas Canárias, onde chegam, em média, três imigrantes a cada hora.

Três embarcações, que juntas tinham 162 pessoas a bordo, aportaram ontem no arquipélago espanhol, elevando a 18.944 o número de imigrantes ilegais que entraram nas Ilhas Canárias desde o início do ano. Estimativas sobre o número de imigrantes que morreram tentando realizar a travessia variam de 590 a 3 mil.

A UE lançou neste mês uma operação para conter as embarcações com imigrantes. Elas partem principalmente de Cabo Verde, Mauritânia e Senegal. A reclamação da Espanha é de que a operação não é grande o suficiente. Segundo De la Vega, a Espanha precisa de "mais barcos, mais aviões e mais pessoal" para controlar suas fronteiras. Ela pediu aos países da UE que contribuam para a patrulha marítima, dizendo que esses esforços são do interesse de todos os membros do bloco.

O comissário de Imigração da UE, Franco Frattini, apoiou o pedido espanhol, dizendo que mais Estados deveriam ajudar. Ele disse que pedirá aos ministros do Interior do bloco, em uma reunião no final de setembro na Finlândia, que ampliem a patrulha marítima nas Canárias até o fim do ano. Frattini não ofereceu ajuda prática ou fundos, dizendo que a Comissão - que deu cerca de US$ 3,9 milhões para ajudar a Agência Européia de Fronteiras (Frontex) na operação - não tem mais dinheiro para este ano. "Todos os países da UE querem ver suas fronteiras seguras, mas quando se refere a dinheiro, é outra questão", disse Elizabeth Collet, do Centro de Política Européia.

A operação nas Ilhas Canárias, coordenada pela Frontex, envolve patrulhas aéreas e marítimas das costas de Cabo Verde, Mauritânia e Senegal. Apenas um barco de Portugal ajuda no patrulhamento. Um navio enviado pela Itália quebrou e o avião prometido pela Finlândia ainda não chegou. Outros países têm contribuído com especialistas na identificação de imigrantes. Funcionários da Frontex dizem que eles são necessários, pois os imigrantes tentam evitar a repatriação ocultando sua nacionalidade. Funcionários do governo nas Ilhas Canárias estimam que mais de 5 mil imigrantes foram repatriados neste ano. Um estudo divulgado esta semana na Espanha, pelo Banco Catalunha, indicou que sem os cerca de 3,5 milhões de imigrantes que entraram na Espanha entre 1995 e 2005, a renda per capita do país teria caído no mesmo período.