Título: Decisão do Copom surpreende, mas empresários querem mais
Autor: Marcelo Rehder, Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2006, Economia, p. B3

Apesar de maior que o esperado pelo mercado, o corte de 0,5 ponto porcentual na Selic não agradou aos empresários. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, classificou de "tímido" o corte.

"A trajetória de queda da Selic mais uma vez mantém o ritmo tímido e não compromissado com crescimento, já", disse Skaf. "O resultado do conservadorismo da política econômica, traduzido em previsão de inflação para este ano de 3,7%, é equivocadamente comemorado pelo governo como êxito, não como erro."

Para Skaf, o preço desse conservadorismo representa 1 ponto porcentual menos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e 400 mil empregos que deixaram de ser criados.

Na avaliação do presidente da Confederação Nacional da Indústria, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, o corte de 0,5 ponto percentual atenua, mas não reverte o efeito contracionista da política monetária. Segundo ele, há espaço para reduções mais expressivas.

"O ritmo contido da atividade econômica e as projeções cada vez mais consensuais acerca do cumprimento, com folga, das metas de inflação para 2006 e 2007 permitem concluir que os juros reais seguem em patamar excessivamente elevado."

Moreira Ferreira lembrou que, com a taxa real de juros próxima de 10% ao ano, a economia não retomará o caminho do crescimento sustentado. "Enquanto o câmbio funcionar como principal trava da inflação, o Copom terá espaço para novas reduções da Selic, o que poderia inclusive fazer de modo audaz", disse o diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof.

Para ele, a redução de 0,5 ponto não representa nenhuma novidade. "A única observação a fazer é que, além de não crescermos acima de 3,5% este ano, com a lentidão e excessiva cautela do Copom, começamos a comprometer a expansão da economia em 2007", disse. "A síntese dessa história poderia ser: estabilidade com baixo crescimento."

A redução da taxa Selic foi considerada um sinalizador importante para estimular as vendas a crédito no comércio. "Este corte dá mais segurança para o varejo alongar prazos, reduzir taxas e incrementar o crediário", disse o diretor do Departamento de Economia da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo.

O economista observou que as vendas a prazo vem crescendo, mas até agora abaixo do esperado. "A manutenção de quedas de 0,50 a cada reunião dá esperança de que o juro brasileiro chegue a um nível mais adequado no próximo ano".

Para o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Abram Szajman, o Copom não tinha motivos que justificassem queda inferior a 0,5 ponto percentual.

"Esse é um bom momento para a manutenção dos cortes, pois a inflação está abaixo da meta, o câmbio valorizado, a demanda controlada e o custo da dívida publica acima do suportável, precisando de alívio".