Título: PIB brasileiro na lanterninha
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2006, Economia, p. B6

Mesmo que o Brasil cresça até 4,5% este ano, como acredita o governo, o País não chegará ao primeiro pelotão de países em termos de crescimento econômico. Repetirá, no máximo, colocações de anos anteriores. Levando em conta a expectativa média do mercado para o crescimento do PIB em 2006, de 3,5%, o País será o 127º colocado numa lista de 180 nações. Com uma expansão de 4% a 4,5%, o crescimento brasileiro ficaria entre a 87ª e a 112ª posições.

Hoje, o IBGE divulgará o PIB do segundo trimestre, que deverá mostrar dados mais fracos que os esperados e expor as dificuldades de crescimento do País. "A história se repete; o Brasil permanece, mesmo que venha a ter um desempenho de até 4,5% no ano, com um crescimento muito limitado. Fica mal colocado no ranking", afirma o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, que preparou um levantamento comparativo com base em projeções do FMI para 2006.

O trabalho também mostra que o crescimento de 2,3% em 2005 pôs o Brasil na 144ª posição no ranking. Nessa comparação, as melhores colocações nesta década foram em 2000, quando a economia avançou 4,4% e o País ficou na 84ª posição, e em 2004, com uma expansão do PIB de 4,9% e a 87ª colocação. O pior desempenho relativo recente ocorreu em 2003, quando a economia cresceu só 0,5%, deixando o Brasil na 158ª posição.

Nas primeiras posições da lista de projeções do FMI para 2006 aparecem economias relativamente menores da África e Ásia, tradicionais produtores de petróleo ou com a atividade em expansão, explica o presidente da Expetro, Jean-Paul Prates. Já na oitava colocação surge a China, país emergente de grande porte que deverá avançar 9,5% este ano. Atrás do Brasil no ranking ficam a economia americana e algumas européias, mais maduras.

Ao longo deste ano, as projeções do crescimento brasileiro vêm sendo gradualmente revistas. O Instituto de Economia da UFRJ abriu o ano acreditando em 4% e depois baixou para 3,5%. O coordenador do Grupo de Conjuntura do IE/UFRJ, Antonio Licha, explica que a demanda doméstica "se expandiu bastante", mas o câmbio é o grande vilão: trava os setores exportadores e eleva as importações.

A valorização do real prejudicou o crescimento industrial e afetou a expansão do PIB. Nem o avanço da massa salarial, o recuo dos juros e a expansão do crédito, ainda que mais branda, e a política expansionista de gastos públicos estão compensando, segundo o grupo de conjuntura, os efeitos do câmbio sobre a indústria, setor de maior influência econômica. "Dificilmente o PIB vai superar 3,5% este ano", afirma.

A Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) também entrou o ano apostando numa expansão de 4% e agora prevê 3,5%. O economista-chefe da Sobeet, Alexander Xavier, também avalia que "não dá para chegar" na expectativa do governo, entre 4% e 4,5%, conforme disse anteontem o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

O ministro reconheceu que houve desaceleração no segundo trimestre, mas indicou que a economia deverá se recuperar no terceiro e quarto trimestres. Numa conta simples, contudo, Licha avalia que para o PIB crescer ao redor de 4% este ano, a produção industrial teria num ritmo forte demais nos próximos dois trimestres, perto de 2,5% ante o trimestre anterior, o que não é esperado. O Ipea também reduzirá sua projeção de 3,8% para o PIB este ano.

Para Xavier, o Brasil concorre cada vez mais para receber investimentos. "O Leste Europeu e a Ásia estão atraindo investimentos diretos, economias que estão se abrindo e gerando novas oportunidades de negócios", diz ele.