Título: Embraer vende 100 aviões para empresa chinesa por US$ 2,7 bi
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2006, Negócios, p. B18

A Embraer assinou ontem um contrato para fornecer 100 jatos regionais para companhia aérea HNA, a quarta maior da China. O contrato, no valor de de US$ 2,7 bilhões, foi assinado ontem, no Palácio do Planalto, na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Este é o segundo maior contrato da divisão de jatos regionais da Embraer. O maior contrato é o da JetBlue, que tem um pedido de 101 jatos do modelo 190, no valor de US$ 3,3 bilhões.

Metade da encomenda - 50 jatos ERJ 145 (50 assentos) - será fabricada na própria China. A outra metade - 50 jatos do modelo 190 (106 assentos) - será fabricada em São José dos Campos (SP). Para o presidente da Embraer, Maurício Botelho, o acordo é importante não apenas pelo seu valor expressivo, mas também "por ser a confirmação que a decisão da Embraer de se estabelecer na China foi correta".

Em 2002, a Embraer firmou uma joint venture com a estatal chinesa Avic II para a produção dos jatos ERJ 145 na cidade de Harbin. A fábrica iniciou operações em 2004, mas até junho deste ano só haviam sido produzidos 10 aviões. O baixo número de pedidos até então, juntamente com o anúncio do governo chinês de montar uma fábrica de jatos regionais muito similares aos da Embraer, levou muitos analistas a criticar a decisão da empresa de investir na China.

Os aviões da HNA deverão ser fornecidos ao longo dos próximos cinco anos, com a primeira entrega prevista para setembro de 2007. Segundo Botelho, o negócio com o grupo chinês não altera a meta de entrega de 150 aviões em 2007. Ele informou que o contrato ainda dá a opção para a HNA encomendar mais 100 aviões. Botelho disse que não serão necessários novos investimentos na unidade mantida pela Embraer na China, mas admitiu que poderão ser feitos investimentos na fábrica no Brasil.

Além dos aviões para a China, a Embraer deve entregar mais 800 aeronaves para diversos mercados nos próximos cinco anos. Hoje, segundo Botelho, 70% das exportações da Embraer vão para os EUA, 25% para a Europa e 5% para o restante do mundo. A participação da China é de menos de 2%, mas Botelho acredita que deve crescer nos próximos anos.

Presente na cerimônia, o presidente do conselho da HNA, Cheng Feng, afirmou que a indústria de aviões precisa crescer rapidamente para acompanhar a expansão da economia chinesa. Ele previu que, ao longo dos próximos cinco ou seis anos, a demanda por novas aeronaves será de 1.000 unidades, das quais 300 serão aeronaves regionais, segmento no qual a Embraer atua. "Isso é uma blindagem muito grande para o fabricante de avião regional. E, como a China tem sua própria indústria de aviões, sinceramente, ela não vai entregar todo esse mercado para os fabricantes estrangeiros."

Com a decisão da HNA, que é controlada pelo governo, a China cumpre a promessa de fazer encomendas significativas da Embraer, que era uma das contrapartidas à instalação da empresa na China. Por outro lado, devem aumentar as pressões do governo chinês para que o Brasil reconheça a China como economia de mercado.

Também foi assinado ontem, no Palácio do Planalto, um outro acordo com a AVIC II, ampliando a joint venture. A partir de agora, algumas partes da aeronave, que antes eram apenas montadas, passarão a ser fabricadas na unidade das duas empresas na China.