Título: Alckmin mantém o tom e critica 'coisa numerológica'
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2006, Nacional, p. A4

Apesar da pressão crescente para que adote um discurso mais duro contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse ontem que manterá a estratégia de evitar os ataques pessoais ao adversário, centrando suas críticas na administração petista. "O governo tem uma máquina publicitária muito grande, descolada da realidade, e o Lula vive em um mundo virtual", afirmou.

A ampliação da vantagem de Lula e o recorde da avaliação positiva do governo registrados na última pesquisa Datafolha preocuparam os aliados de Alckmin. "A conjuntura é realmente desfavorável. Não dá para tapar o sol com a peneira", admitiu o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). "O problema é que, com a economia indo bem, muitos dos erros do governo e do presidente são relevados."

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que até agora vinha sendo o único a protestar contra a posição de Alckmin, ganhou ontem o reforço do colega Álvaro Dias (PSDB-PR). "O Lula está crescendo porque não está sendo atacado", disse. "Subiu porque a campanha começou e nós paramos de bater." Mas Dias destaca: "Não é o Alckmin quem tem que fazer os ataques. Nós, seus aliados, é que devíamos ter nos organizado para manter as denúncias."

"Meu papel é ajudar o Alckmin, mas está difícil. Não há combate", queixou-se ACM. Ele insistiu em que "é necessário mudar o estilo da campanha por inteiro", não apenas o estilo do candidato. "É preciso ter mais indignação e mostrar mais a corrupção de Lula. Enquanto isso não for feito, o prestígio de Lula e a avaliação do governo vão continuar subindo."

Alckmin, argumentou que a campanha não pode ser "errática", pois "tem lógica, um caminho, coerência e verdade". Para ele, não há por que se impressionar tanto "com essa coisa numerológica", porque a decisão do voto é um processo e sua candidatura pegou um "viés de alta", que não se inverterá mais. "É para cima e para o alto", proclamou, ao garantir que haverá segundo turno entre ele e Lula.

Ontem, o tucano falou de seu programa de saúde no 16º Congresso Nacional das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos. Disse que o governo Lula deixou de aplicar R$ 1,6 bilhão que poderiam ter ajudado os mais de 2 mil hospitais filantrópicos em dificuldades financeiras. Em discurso para uma platéia de médicos, freiras e dirigentes da Confederação das Santas Casas, Alckmin também prometeu uma espécie de Proer - o programa criado para socorrer bancos - para refinanciar as dívidas das dessas entidades, que atendem sobretudo a população mais pobre.