Título: FHC cobra dos tucanos posição mais firme contra desvios éticos do PT
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2006, Nacional, p. A4
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem ao Estado que o PSDB "precisa ser mais incisivo" na cobrança de punições para os envolvidos com o mensalão. Segundo ele, parte da culpa pelo esquecimento dos escândalos é da oposição, que não esclareceu suficientemente a população sobre a real dimensão das responsabilidades dos envolvidos, do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Mas há também uma enorme sensação de impunidade e isso leva o povo à indiferença", observou Fernando Henrique.
Ele disse que não pediu o impeachment de Lula, ao falar há três dias num seminário em São Paulo. "Eu me referi ao passado, não pedi o impeachment agora", ponderou. Na terça-feira, Lula respondeu: "Eu não posso levar a sério o que o ex-presidente está falando." Ontem o ex-presidente replicou: "Se levar a sério o que eu digo, Lula vai ter de se explicar. E vai ser difícil explicar as tantas irregularidades havidas."
Fernando Henrique admitiu que a tese do "somos todos iguais" - a tentativa do PT de "vender" a idéia de que os petistas envolvidos em irregularidades fizeram "o que todo mundo faz" - foi assimilada pelo eleitorado. "Tenho horror a essa tese. Nós temos de repeli-la, porque ela significa o fim da política", reagiu. Essa tese, disse, compromete a prática política. "É o liberou geral. Isso cria uma situação grave, porque a zona de intersecção entre o lícito e o ilícito fica muito confusa."
SOLIDARIEDADE Para ele, Lula "incorre numa coisa séria" quando volta a insinuar que os escândalos não passaram de um "pecado venial". Em recente encontro com artistas, no Rio, um dos convidados perguntou a Lula se tinha feito mal em pedir, na conversa, solidariedade aos acusados do mensalão. "Ele (Lula) disse que não, que o convidado tinha feito muito bem", observou Fernando Henrique. "E chegou a dizer que era preciso ter solidariedade com os 'companheiros'."
O ex-presidente condenou a atitude: "Não tem de prestar solidariedade aos 'companheiros' envolvidos, tem de apurar. Tem de saber se fez ou não fez coisas erradas e, se fez, punir." Fernando Henrique disse que os partidos não deveriam esperar a ação da Justiça. "Uma vez denunciado (o político) pelo procurador e aceito pelo tribunal, a atitude correta dos partidos seria dizer: não tem moral para ser candidato, não pode concorrer até provar sua inocência."
Ele afirmou que essa regra - não ser candidato até que a situação seja passada a limpo - deveria ser seguida por todos os partidos, mas acabou ignorada pela grande maioria. "O PSDB não deu legenda para que o único filiado envolvido com os sanguessugas concorresse. Mas os outros não fizeram nada."
Fernando Henrique também criticou Lula por ter dito que o povo o absolverá. "Quem disse coisa parecida antes foi Fidel Castro, mas foi mais modesto, disse que a História o absolveria", ironizou. E explicou sua discordância: "O povo não é juiz, eleição não é tribunal para dizer se houve delito ou não."