Título: Spread cai menos que juros, diz BC
Autor: Vânia Cristino, Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2006, Economia, p. B4

O consumidor está tendo mais acesso ao crédito, está pagando taxas mais baixas, mas ainda enfrenta um custo elevado quando precisa tomar um empréstimo numa instituição financeira. Os dados do Banco Central (BC) indicam que o volume total que os bancos emprestaram para qualquer finalidade aos seus clientes subiu 12,3%, passando de R$ 405,83 bilhões em janeiro para R$ 453,49 bilhões em julho. Essa maior oferta de recursos foi acompanhada de uma queda de 5 pontos porcentuais nas taxas de juros e de 3,1 pontos porcentuais no spread, a parcela que define o ganho do sistema financeiro. Os juros recuaram de 59,7% em janeiro para 54,3% no fim de julho, enquanto o spread representava no mês passado 39,7 pontos porcentuais do custo do empréstimo.

O chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Luiz Malan, disse que a queda tanto das taxas de juros quanto do spread é um processo que vem ocorrendo ao longo do tempo. As medidas que o governo vai adotar, segundo ele, devem contribuir ainda mais para a redução das taxas. Malan destacou que a taxa de juros para a pessoa física, de 54,3%, é a menor da série histórica iniciada em 1994. Mesma coisa ocorre com o spread, que ficou em 39,7 pontos porcentuais em julho deste ano.

Para as pessoas físicas, a queda da taxa de juros em julho foi generalizada. Ela caiu nos empréstimos com desconto em folha, de 35,7% em junho para 35,1% ao ano em julho e também no crédito pessoal, de 62,2% para 59,8% ao ano. Quem usou o cheque especial em julho também pagou um pouco menos. A taxa caiu de 145,1% para 144,1% ao ano. A taxa também ficou mais barata no financiamento de veículos, que atingiu 32,6% ao ano em julho - queda de 0,7 ponto porcentual em relação ao mês anterior. A inadimplência subiu 0,3 ponto porcentual, atingindo 7,5% nas operações com as pessoas físicas em julho mas, segundo Malan, ela não é preocupante. "O sistema financeiro é sólido e está mais do que provisionado em relação à inadimplência."

GORDURA Com relação às operações com as pessoas jurídicas, a taxa de juros de 28,3% ao ano em julho é a menor desde outubro de 2002. O spread de 13,4% também é o menor desde dezembro de 2004. A taxa de juros para as empresas só subiu 0,4 ponto porcentual em julho nas operações para capital de giro. No mês, a taxa alcançou 32,8% ao ano. Nas demais modalidades de empréstimo, como desconto de duplicadas e aquisição de bens, os juros caíram na mesma proporção. Para o mês de agosto, segundo o chefe-adjunto do Depec, a tendência é de queda nas taxas de juros.

Nos primeiros nove dias úteis do mês, dados preliminares do Banco Central indicam a continuidade da expansão do crédito.

Os dados sobre o nível do spread bancário indicam que, se os bancos decidissem, numa atitude atípica, simplesmente eliminar o spread, a parcela que define o ganho do sistema financeiro, os juros cobrados no financiamento a pessoas físicas cairiam dos atuais 54,3% para 14,6%, uma taxa que é muito próxima dos 14,75% da Selic, a taxa básica de juros da economia. Essa redução drástica aconteceria com a eliminação dos 39,7 pontos porcentuais que definem o spread incorporado aos financiamentos concedidos no mês passado.

Essa redução significativa do spread, no entanto, não é factível do ponto de vista das instituições financeiras, segundo reconhecem os técnicos do governo. O spread é definido baseado em vários fatores, entre eles o risco de inadimplência e a margem de lucro que os bancos definem para suas operações.