Título: Edemar deixa cela e volta à mansão
Autor: Simone Menocchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2006, Economia, p. B6

O ex-controlador do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, foi libertado ontem, por volta das 14h30, cerca de 24 horas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar sua saída da Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo. Edemar saiu acompanhado de advogados, numa Blazer azul, e foi direto para a sua mansão, avaliada em R$ 50 milhões, no bairro do Morumbi, na capital paulista.

O ex-banqueiro ficou preso durante 88 dias. No dia 26 de maio, foi levado para a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. Três dias depois, foi transferido para o Centro de Detenção Provisória de Guarulhos e no dia 7 de junho, para a unidade de Tremembé, onde ficam os presos especiais. É lá que estão os irmãos Cravinhos, do caso Richthofen, e o ex-jogador Edinho, filho de Pelé.

Durante o período em que ficou em Tremembé, Edemar trabalhou na lavanderia da penitenciária e usou o uniforme cor de abóbora.

A penitenciária onde Edemar estava é uma exceção no Estado. Não tem superlotação e é considerada especial por receber presos que possam sofrer constrangimento moral ou físico. Nos últimos dois meses, Edemar conviveu com 316 detentos como ex-policiais, filhos de funcionários da Justiça, ex-funcionários públicos, além de criminosos de alta periculosidade.

A imprensa aguardou a saída do ex-banqueiro, ontem, por sete horas. Os advogados avisaram que Edemar não daria entrevista. "Ele está tranqüilo, aguardando o habeas corpus. Daqui vai para São Paulo, sem falar com vocês", disse um dos advogados, Ricardo Tepedino. Sentado no banco de trás do carro, Edemar chegou discretamente à mansão e entrou pelos fundos. Um dos seguranças disse que o "chefe" estava no escritório, com a família e seus advogados. "Ele vai descansar, não quer falar com mais ninguém."

O ex-banqueiro é acusado por gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e responsabilidade pela quebra do Banco Santos. A falência foi decretada em setembro de 2005, com prejuízo estimado em R$ 2,2 bilhões.

Na decisão, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a revogação da prisão preventiva de Edemar não oferece risco à sociedade. "O STF cumpriu a lei, que não permite que ninguém fique preso por fundamentos fúteis", disse o outro advogado, Sérgio Bermudes. "O habeas corpus está praticamente concedido."

Edemar foi preso por se ter recusado a dar informações sobre o destino das obras de arte que teriam sumido de seu acervo. São mais de dez obras, avaliadas em algumas centenas de milhares de dólares cada.

Boa parte das obras de arte da coleção - calcula-se 22 mil obras - foi tomada pela Justiça e encaminhada a museus do País. No dia 25 de julho, o ex-banqueiro e ex-mecenas foi excluído do Conselho Deliberativo da Fundação Bienal de São Paulo. Os conselheiros alegaram que a presença de Edemar causa "desconforto" à instituição.