Título: Senado da Bolívia pede saída de Soliz
Autor: AGNALDO BRITO
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2006, Economia, p. B10

O Senado da Bolívia exigiu ontem a renúncia do ministro dos Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, responsável pelo confuso processo de nacionalização do setor de petróleo e gás do país. Pouco depois da decisão, Soliz Rada pediu demissão ao presidente Evo Morales, que não a aceitou.

Para o presidente, os senadores que votaram contra o ministro são "vendedores da pátria, traidores do povo, assassinos e servem às multinacionais". Evo utilizou uma prerrogativa prevista pela Constituição boliviana segundo a qual o presidente pode evitar a demissão de um funcionário em casos como o de ontem.

Os senadores da oposição, sem a presença da maioria governista, aprovaram uma moção de censura contra Soliz Rada. A decisão foi contestada pelos senadores que apóiam o governo Evo Morales sob a alegação de falta de quórum para uma decisão desse tipo. Além da moção, os senadores criaram uma comissão parlamentar para investigar denúncias de corrupção na Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB).

A ofensiva da oposição é uma reação a denúncias de corrupção ainda sob investigação que recaem sobre o presidente da YPFB, Jorge Alvarado, a mesma empresa que busca a renegociação do contrato de compra de gás pelo Brasil. Ele é acusado de ter assinado um contrato para troca de 2 mil barris de petróleo por óleo diesel. O negócio seria feito com a empresa brasileira Iberoamérica.

Acusado pela oposição de proteger a corrupção de seu funcionário, o presidente Morales se defende e diz que seu governo "não vai tolerar práticas de corrupção, tráfico de influência e má gestão pública", ressaltou Quintana.

A primeira denúncia contra Alvarado partiu de um organismo do próprio governo: a Superintendência de Hidrocarbonetos. O órgão impediu a realização do negócio com a empresa brasileira por ser contrária ao que determinava a nacionalização anunciada em 1º de Maio. A Superintendência informou que o negócio causaria prejuízo de pelo menos US$ 32 milhões ao Estado Boliviano.

O esquerdista Evo alega que a decisão do Senado é apenas uma ofensiva da oposição direitista no Congresso do país. Ofensiva que, segundo ele, recebe apoio das petroleiras estrangeiras, que elegeram como alvos Alvarado e Soliz Rada. Sobre o ministro também recaem acusações pela demora para conseguir concluir a nacionalização e por eventuais problemas de corrupção na YPFB.

Para o senador Oscar Ortiz do Podemos, principal partido de oposição ao governo Evo, o caso de corrupção compromete o processo de nacionalização dos hidrocarbonetos. Segundo ele, o governo boliviano não tem demonstrado capacidade de implementar o decreto de nacionalização.

O líder da bancada do partido de Evo, o Movimento ao Socialismo (MAS), Gustavo Cornejo, qualificou a moção contra Soliz Rada de um "gesto de traição à Bolívia". "Quando os senadores não patriotas cravam um punhal no coração da Bolívia, realmente é um momento de dor, de luto contra um ministro mais patriota", reagiu.