Título: Argentina lança programa nuclear
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2006, Economia, p. B11
O Ministro do Planejamento da Argentina, Julio de Vido, anunciou ontem o programa nuclear do país, que, segundo cálculos extra-oficiais, custará US$ 3,5 bilhões nos próximos cinco anos. O cálculo engloba a conclusão da terceira usina (já há duas) e a construção da quarta.
A estimativa ainda prevê a ampliação da produção de urânio enriquecido e a reativação da fábrica de água pesada, cruciais para o funcionamento das usinas.
Com o programa, o presidente Néstor Kirchner tenta superar a crise energética que já dura dois anos e pode agravar-se, segundo especialistas. De Vido destacou que o uso da energia nuclear seria "pacífico".
O plano é reduzir a dependência da energia elétrica produzida pelo gás - as reservas argentinas de gás estão encolhendo rapidamente -, pelas poucas hidrelétricas e pelo petróleo, cujas reservas também não mostram um cenário otimista.
No total, 51% da eletricidade do país é produzida por usinas térmicas e 42%, por hidrelétricas. A energia nuclear responde por 7% do total. É produzida pelas usinas de Atucha I (no município bonaerense de Zárate, à beira do Rio Paraná), inaugurada em 1974, e a de Embalse (próximo da cidade cordobesa de Río Tercero), que entrou em funcionamento em 1983. Atucha I, a primeira central nuclear da América Latina, tem 357 megawatts (MW) de potência e Embalse, 648 MW.
Além de reforçar a autonomia na área nuclear argentina, o programa contém fortes sinais de que o país quer consolidar-se como exportador de tecnologia do setor.
NOVA USINA Kirchner pretende concluir as obras de Atucha II, no município de Zárate, no Rio Paraná. Essa central nuclear começou a ser construída há 25 anos. Em 1994, o então presidente Carlos Menem (1989-99) ordenou a suspensão das obras. De lá para cá, a obra ficou parada. Em diversas ocasiões Menem tentou privatizar as usinas, sem êxito.
Atucha II vai produzir 750 MW e o custo da conclusão das obras será de US$ 600 milhões. O plano também prevê a construção da quarta usina, com capacidade de 1 mil MW, mas a sua localização não foi definida e o estudo de viabilidade ainda precisa ser feito. A idéia inicial é que essa usina comece a ser construída em 2010, após a conclusão das obras de Atucha II. O custo da quarta central nuclear oscilaria entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões.
Kirchner também quer modernizar a usina de Embalse de forma a ampliar os prazos de seu funcionamento em outros 25 anos. Dessa forma, a denominada "vida útil" da usina não terminaria em 2018, como estava originalmente previsto, mas em 2043.
De quebra, o programa inclui a ampliação da fábrica de água pesada de Arroyito. Esse investimento, de US$ 200 milhões, possibilitaria a produção de 600 toneladas de água pesada. O programa também prevê a retomada da produção de urânio enriquecido, suspensa nos anos 90 por causa de pressões internacionais. A fábrica de urânio enriquecido, fundada em 1978, durante a última ditadura militar, está na cidade de Pilcaniyeu, na Patagônia.