Título: Lula amplia vantagem e venceria no primeiro turno por 15 pontos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2006, Nacional, p. A6
A 34 dias das eleições, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vive num mar de rosas e o oposicionista Geraldo Alckmin (PSDB) entra num redemoinho que pode deflagrar uma crise em sua campanha: pesquisa Estado/Ibope que foi a campo entre quarta e sexta-feira mostra que Lula subiu 2 pontos porcentuais e chegou aos 49% (47% há 9 dias), enquanto Alckmin subiu 1 ponto e foi para 22% (21% há 9 dias). O novo resultado não deixa dúvidas: o horário eleitoral, que segundo Alckmin mudaria tudo, após duas semanas foi insuficiente sequer para arranhar a vantagem de Lula.
O mais complicado para o tucano é que, se ele e Lula subiram dentro da margem de erro da pesquisa, a terceira colocada, a candidata Heloísa Helena (PSOL), caiu 3 pontos e desceu para 9%, diminuindo ainda mais a possibilidade de haver um segundo turno. Agora, a vantagem do presidente sobre a soma dos demais adversários é de 15 pontos porcentuais (11 pontos há 9 dias); ele tem 49% e a soma dos oponentes é de 34%, diferença que sugere um processo de consolidação da decisão no primeiro turno.
Apesar da vantagem, a intenção de voto em Lula continua a ser muito heterogênea: ele segue sendo imbatível no Nordeste (onde alcança 68%), fortaleceu-se muito no Norte/Centro-Oeste (onde subiu de 47%, há 9 dias, para 52%), cresce substancialmente no Sudeste (de 37% para 43% em 9 dias), mas continua com uma intenção de voto mais modesta no Sul, onde cumpre sua pior performance nesta eleição (tem 35%).
ALCKMIN AVANÇA POUCO
Alckmin não avançou muito nos últimos 9 dias: foi de 11% para 14% no Nordeste (seu melhor índice na região desde o começo da campanha), subiu um pouco no Norte/Centro-Oeste (de 21% para 23%) e ficou estável no Sul (de 26% para 25%, dentro da margem de erro) e no Sudeste (25%). Este último número talvez seja o pior para Alckmin. Na região que abriga São Paulo - Estado em que tem excelente avaliação -, ele perde para Lula por 43% a 25%. Em julho, Lula o vencia na região pela pequena diferença de 37% a 34%.
Heloísa Helena perdeu pontos em todas as regiões: caiu de 15% para 9% no Norte/Centro-Oeste, de 10% para 7% na sua região de origem, o Nordeste, de 12% para 10% no Sudeste e de 14% para 12% no Sul.
Com o desempenho tímido dos oponentes, Lula vence em todos os segmentos e regiões, inclusive entre os que têm escolaridade superior (34% a 28%) e no grupamento de renda familiar superior a 10 salários mínimos (36% a 31%). Na última semana de julho Alckmin liderava esses dois segmentos - o primeiro, por 41% a 28% e o segundo por 52% a 19%. A virada de Lula nesses dois segmentos têm um diagnóstico claro, segundo Márcia Cavallari, diretora do Ibope: com a segunda onda de ataques do crime organizado em São Paulo, a classe média, alma desses grupamentos, descartou Alckmin e aderiu a Lula.
'PAI DOS POBRES'
A leitura dos resultados da pesquisa nos extratos menos favorecidos do eleitorado mostram a ação devastadora do "pai dos pobres". No segmento dos que ganham até 1 salário mínimo - o coração do Bolsa-Família - Lula vence por 56% a 16%; nos que ganham entre 1 e 2 salários mínimos, o presidente lidera por 52% a 21%; entre os que têm até a 4ª série do ensino básico, a vantagem é de 54% a 19%.
Os números da pesquisa deixam esperanças para Alckmin. Uma delas é o número relativamente alto de indecisos na pesquisa espontânea - nela, 32% não indicaram nenhum nome. Na estimulada, esses indecisos caem para 10%, o que significa que 22% dos indecisos originais não resistiram a apontar um nome na cartela. Como o presidente é conhecido por praticamente 100% do eleitorado, se ainda existem eleitores indecisos, eles certamente conhecem Lula e expressam, com sua indecisão, que não são adeptos do petista e aguardam um apelo irresistível para se engajar numa candidatura alternativa.
Mas Lula reduz os espaços negativos, mostrou a pesquisa Estado/Ibope. A sua taxa de rejeição caiu de 27%, há 9 dias, para 24% agora, fora da margem de erro da pesquisa; a de Alckmin, de 22%, há 9 dias, para 21% agora, mas a de Heloísa subiu, confirmando a tendência de queda na sua intenção de voto: agora, 26% - um quarto do eleitorado - não votariam nela de jeito nenhum (24% na anterior).
Na simulação de segundo turno - hipotética, porque, como indicou a pesquisa, Lula venceria no primeiro -, o presidente bateria Alckmin por 54% a 32% (53% a 32% na pesquisa anterior). Alckmin só vence entre os que ganham mais de 10 salários mínimos (46% a 40%) e entre os eleitores que votaram em José Serra em 2002 (66% a 24%). A pesquisa Estado/Ibope entrevistou 2.002 eleitores entre os dias 23 e 25 de agosto, em 140 municípios, com uma margem de erro de