Título: Aids: hora de cumprir promessas
Autor: Roseli Tardelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2006, Vida&, p. A28

A 16ª Conferência Internacional sobre Aids, em Toronto, no Canadá, não trouxe avanços científicos considerados surpreendentes. Os microbicidas e um medicamento inibidor de integrase foram as novidades em destaque. Os microbicidas, espécie de creme vaginal, poderão dar às mulheres maior independência. Há 16 pesquisas do produto em andamento. Resultados práticos, talvez em dois anos, informaram especialistas. Já o inibidor de integrase agiria contra a integração de uma enzima do vírus HIV no corpo humano. A enzima é uma das três necessárias para a replicação do vírus HIV.

Pouco se falou sobre prevenção. Se todo mundo já sabe que o preservativo funciona , é seguro e deveria ser mais disponibilizado, por que uma conferência desse porte não ajuda o mundo a avançar nesse tema tão importante e com efeitos comprovados? Ah, esqueci, tem a Igreja que é contra. Ah, esqueci novamente, tem a política conservadora do governo Bush que incentiva mais a abstinência do que a distribuição gratuita de camisinhas.

¿Time to Deliver¿, tema do evento - tempo de cumprir as promessas que o mundo fez para lidar com o HIV -, veio ao encontro de tudo o que o monte de gente que se reuniu em Toronto buscou como resposta. Os ativistas aproveitaram para chamar atenção novamente para a lei de patentes. Médicos e cientistas trocaram experiências e mostraram resultados de pesquisas. O fato de o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, não ter comparecido à abertura gerou críticas.

O canadense Stephen Lewis, representante do Unaids na África, esteve presente durante toda a semana que antecedeu a conferência, em diferentes telejornais do Canadá, falando da necessidade de o país ocupar o espaço e assumir a liderança no enfrentamento da pandemia. Segundo ele, o impacto nos resultados de uma ação coordenada por um país de Primeiro Mundo seriam diferentes. Eu também acho. Aliás, acho mais. Acho que uma conferência como essa deveria reunir mais presidentes ou primeiros-ministros de todo o mundo. Que pena que alguns burocratas instalados em Brasília não perceberam a importância do encontro e não disseram ao presidente Lula que ele deveria participar. Nosso país é respeitado pelo mundo inteiro por ter, em determinado momento desses 25 anos de história do HIV entre nós, combinado tratamento e prevenção e obtido resultados positivos.

Às vezes eu tenho a impressão de que o governo Lula acha que o Programa Brasileiro de Combate à Aids é do PDSB, do PFL, do PTB, do PSB - de qualquer partido que não seja o seu. Não sinto que dá ao programa a importância que ele tem. Sinto que não dá ao ativismo brasileiro também a importância que ele tem.

O programa é de todos nós que ajudamos a construí-lo com críticas, aplausos, horas de muitas reuniões, com muita gente que tem dado duro para o Brasil não perder as conquistas que vem solidificando ao longo do tempo.

O programa é um pouco meu, é um pouco seu que lê este artigo, é do Araújo, do Mário Scheffer, da Maria Clara, do Arthur Kalichman, do Pedro Chequer, do Paulo Teixeira, do Padre Júlio Lancelotti, da Doutora Marinella, do Beloqui, da Silvinha, do Alexandre Magno, da Cristina Abbate, da Laurinha de Manaus, da Marta Mcbritton, da Teresa Macbritton, da Claudinha, do Denis, do Robinson Camargo, do Orival Silveira, da Mariângela Simão, da Emi, da Nair Brito, da Áurea Abade, da Fátima Baião, do Veloso, da Wilza, do Eduardo Barbosa, do Duda, do Lula, do Fernando Henrique, do Itamar, do Quércia, do Serra, da Erundina, da Heloísa Helena, do Geraldo, do Antônio Carlos Magalhães, do Stédile, do Padre Valeriano, da Leila Reis, da Fátima Cardeal, da Marga Noé, da Paula, da Simone Martins, da Maura, da Aranay, do Serginho Mamberti, do Tadeu di Pietro, do tio Paulo, da Silvia, da Sophia, da Lucinéa, da Ilma, da Hebe Camargo, da Galisteu, da Gabi, do Jô, do Silvio Santos, dos Marinhos, dos Mesquitas, dos Frias, do Pinheiro Neto, do Renato Lutti, do Pedro Dias, da Cecília, do Abram Sjazman, do Danilo Miranda, do Domingos, do Mário, do Zacharias, da Vascon, do José Luis, da Júlia, do Tiago, do Artur, do Manuel Carlos, do Faustão, do Gugu, do Ronaldinho, do Rogério Cenni, da Maria José, do Anieri, do Antonio Carlos, do Mário Griecco, do Francisco Martins, do Geraldo Peloia, do João Sanches, do Marcelo Guimarães, do Maurício, da Vivianne, do Laerte, do Rodrigo, do Élcio, da Déborah, da Sueli, da Luciana, do Alexandre Granjeiro, da Shirley, do Roberto, da Bethânia, da Gal, da Marisa Monte, da Maria Bononi, da Peramezza, da Walkirinha, do Trevisan, da Lena, do Djavan, do Caetano, da Doutora Lair Guerra, do Doutor Jatene, é de todos os profissionais de saúde que atendem diretamente as pessoas que se infectaram, enfim, é nosso, é do Brasil!

A gente sabe que a aids merece respeito e cuidados. Mas sabe também que tudo o que tem sido feito para amenizar a ação do HIV no mundo merece muito aplauso. Aplauso aos ativistas que apontam o dedo e fazem sua parte. Aplauso a todas as pessoas que vivem com HIV e aids e que a cada dia nos dão uma lição de resistência, paciência, compreensão e humanidade.