Título: Vice está em alta no governo boliviano
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2006, Economia, p. B17

Ao assumir o comando da delegação que esteve no Brasil na semana passada para uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente boliviano, Alvaro García Linera, deixou claro o seu lugar numa área estratégica do governo.

Até agora, a principal autoridade boliviana no setor de energia era o jornalista Andrés Solíz Rada, ministro dos Hidrocarbonetos, reputação de honestidade a toda prova, muitas idéias radicais na maleta de viagem e uma ignorância quase infinita para assuntos técnicos. García Linera é o novo homem forte.

Conhecido por uma boca imensa, que não se cansava de fazer críticas à Petrobrás, Solíz Rada está com a cabeça a prêmio depois que a oposição conseguiu aprovar uma moção, no Senado boliviano, pedindo que fosse demitido do governo.

O presidente Evo Morales decidiu mantê-lo no posto, mas deixou claro que não é mais o manda-chuva. Essa é uma boa notícia para o Brasil. Solíz Rada é um adversário declarado do governo brasileiro e mantinha uma atitude de privilegiar os negócios com Caracas, em prejuízo de Brasília. Sempre que tem oportunidade, García Linera não deixa de registrar as diferenças entre a Bolívia e a Venezuela.

García Linera é o cérebro estratégico do governo Evo Morales. Enquanto o presidente cultiva uma imensa popularidade, García Linera é um vice-presidente atípico: assume responsabilidades próprias dentro do governo, negocia com empresários, conversa e articula.

Formado em Matemática, professor de Sociologia, o vice-presidente reúne bom conhecimento acadêmico e uma militância radical. Foi dirigente guerrilheiro e, depois de cumprir uma prolongada pena de prisão, articulou uma aproximação das organizações de esquerda com lideranças indígenas, condomínio que promoveu a chegada de Evo Morales ao poder a partir de ações violentas de oposição aos governantes de plantão.

No Palácio, ele demonstra uma capacidade de ouvir quase tão grande como sua disposição para falar. Sua principal vantagem é ser um auxiliar que conta com a confiança absoluta de Evo Morales, que lhe entrega missões espinhosas e tarefas difíceis.

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