Título: PSDB centra fogo na questão ética
Autor: Christiane Samarco e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2006, Nacional, p. A9
Em queda nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, resolveu agir e lançará nos próximos dias um pacote de propostas para combater a corrupção no País. Uma equipe de especialistas já está produzindo as medidas, que terão destaque no programa de governo de Alckmin e na propaganda eleitoral no rádio e na TV.
A decisão foi tomada em reunião do conselho político da aliança, que ontem iniciou uma ofensiva para vincular todos os escândalos de corrupção do governo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Vamos fazer um pacote não só para consertar o que aconteceu em matéria de corrupção, como para prevenir que novos casos aconteçam", resumiu Alckmin.
Segundo ele, o pacote anticorrupção envolverá mudanças na legislação, alterações na elaboração da proposta orçamentária e no funcionamento da Comissão Mista de Orçamento, além de critérios mais rígidos na avaliação dos projetos do Executivo. Também está prevista a adoção de novos procedimentos nas compras do governo e no controle dos custos e dos gastos públicos para evitar desvios e desperdício.
A estratégia foi definida em meio a um clima de preocupação geral com o aumento significativo da diferença entre Alckmin e seu principal adversário nas últimas pesquisas eleitorais. "Por enquanto, só existe a campanha de quem manda no Brasil, que é o presidente Lula. A nossa vai começar na terça-feira, com a propaganda eleitoral", justificou Alckmin.
Para evitar que o desânimo de alguns conselheiros contaminasse a campanha, os dez dirigentes de PSDB, PFL e PPS que estavam na reunião decidiram usar o mesmo discurso, amenizando a queda de Alckmin nas pesquisas e enfatizando a questão da corrupção no governo.
Foi com esse propósito que o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), lançou mão da última pesquisa do Ibope, que mostra que Alckmin é conhecido por 26% do eleitorado. Ele avaliou que, como Alckmin é ainda pouco conhecido, os 24% de intenção de voto registrados pelo Datafolha na véspera são um bom resultado para começar a campanha na televisão. Lula teve 47% na mesma pesquisa. "Só temos que ter cuidado para que o resultado negativo das pesquisas não oriente a campanha", advertiu o líder da minoria de oposição no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR).
O entendimento geral foi de que o Congresso está pagando sozinho a conta política dos escândalos de corrupção, enquanto o candidato Lula não vem sofrendo nenhum desgaste. "Alguns segmentos da sociedade ainda não entenderam bem o que se passou em 2005", disse Dias. Para o conselho, há tempo para reverter a situação.
"Vamos fazer um programa de governo para mostrar que se pode administrar o País sem a corrupção generalizada do governo Lula", disse o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). "Temos de mostrar que a corrupção se institucionalizou no Planalto e nos ministérios. A crise vem desde o ano passado e o governo até agora não fez nada", completou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), saiu da reunião dizendo que jamais viu, em 30 anos de política, "tamanha falta de decência e honestidade nem tantos parlamentares envolvidos em corrupção como nesta legislatura do presidente Lula". Único representante do PMDB no conselho, o deputado Moreira Franco (RJ) disse que o presidente perdeu a bandeira da ética e o País vive "uma indecência total".