Título: PF desmonta quadrilha madeireira e prende 49
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2006, Nacional, p. A14

Uma quadrilha especializada em esquentar com documentos falsos madeira extraída ilegalmente no Pará e em Santa Catarina foi desbaratada ontem numa operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Federal. Batizada de Isaías, a operação foi deflagrada após 6 meses de investigação e é considerada a segunda maior do País - inferior apenas à Operação Curupira, de 2005.

Foram presas 49 pessoas ontem: 46 no Amapá, 2 no Pará e 1 em Santa Catarina. Ao todo, a Justiça determinou a prisão temporária de 54 pessoas, incluindo policiais, funcionários do Ibama, empresários e um procurador da República - Joaquim Oliveira. São acusadas de contrabando, corrupção, falsidade ideológica e formação de quadrilha. Dos 46 presos no Amapá, 16 são funcionários do Ibama. A PF não revelou nomes. "Divulgaremos oportunamente", disse o delegado Luís Carlos Nóbrega, responsável pelo inquérito.

As investigações detectaram 25 empresas fantasmas, que agiam como suporte do esquema. A quadrilha tinha como ponto de partida a falsificação de Autorizações para Transporte de Produtos Florestais (ATPFs), feita no Amapá. As autorizações são emitidas pelo Ibama para madeiras extraídas de acordo com normas ambientais.

Funcionários do Ibama ligados à quadrilha falsificavam essas ATPFs para permitir o transporte e comércio de madeiras extraídas de forma ilegal no Pará e em Santa Catarina. Parte da quadrilha atuava em São Paulo, para a comercialização do produto.

No cálculo da PF, a fraude envolveu cerca de R$ 53 milhões e permitiu o comércio de 650 mil metros cúbicos de madeira. O suficiente para encher 60 mil caminhões, que, se postos em fila, ligariam São Paulo ao Rio.

Ao anunciar a operação, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, contou que os indícios são de que a quadrilha atuava havia anos na região. "Os resultados mostram que nossa decisão de aliar inteligência à investigação foi acertada." Nos últimos anos, houve dez operações de combate a quadrilhas de comércio ilegal de madeira.

"Vemos também que há uma redução do número de ATPFs irregulares. A escassez provocou aumento no preço delas." Marina disse que nas primeiras operações os documentos falsificados valiam cerca de R$ 200. Na operação ontem, a PF constatou preços de até R$ 5 mil.

Os nomes das operações são escolhidos pela própria PF. O da operação de ontem é uma referência a uma profecia atribuída a Isaías: "Restarão tão poucas árvores em sua floresta que um menino poderá contá-las."