Título: Israel amplia invasão no Líbano
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2006, Internacional, p. A15
O gabinete de segurança de Israel, liderado pelo primeiro-ministro Ehud Olmert, aprovou ontem a expansão da ofensiva militar terrestre no Líbano até pelo menos a altura do Rio Litani, a cerca de 30 quilômetros da fronteira (ver mapa). A medida deixa aberta a possibilidade de as tropas conquistarem também áreas além do rio.
No fim da noite, uma TV israelense informou que blindados estavam cruzando a fronteira ao mesmo tempo em que a artilharia intensificava o bombardeio na região, o que seria o início da ampla ofensiva. Pouco depois, porém, um porta-voz militar insistiu que tropas e tanques só haviam avançado em direção à cidade de Khiyam, de onde o Hezbollah disparou ontem mais de 60 foguetes. Uma grande batalha começou em Khiyam.
Apesar do desmentido, as tropas também entraram 10 quilômetros em território libanês e estavam na madrugada de hoje na periferia da vila de Dibin - o máximo que avançaram no atual conflito.
Ontem também, a TV do grupo xiita libanês Hezbollah transmitiu um discurso de seu líder, Hassan Nasrallah, prometendo lançar mais foguetes contra a cidade israelense de Haifa e transformar o sul do Líbano num cemitério para os soldados de Israel (ler na pág. 16).
A reunião do gabinete de Israel ocorreu, por coincidência, no dia em que o Exército perdeu mais homens em combate com o Hezbollah: 15 soldados morreram e 38 ficaram feridos em várias batalhas na área já ocupada no sul libanês, segundo a TV de Israel. Segundo a TV, o Exército matou 40 combatentes do Hezbollah e identificado entre os mortos membros da Guarda Revolucionária Iraniana. O Hezbbolah negou ter iranianos em suas fileiras. Desde o início do conflito, no dia 12 - com a invasão de Israel por militantes do Hezbollah, que mataram três soldados (outros cinco morreram na explosão de uma mina) e capturaram dois -, Israel e os EUA acusam o Irã e a Síria de estarem por trás da investida do grupo xiita. Os dois países dão apoio ao Hezbollah.
Ontem, o governo libanês anunciou que 1.005 civis libaneses já morreram nos bombardeios de Israel. O Hezbollah já matou 116 israelenses, na maioria militares. Com a expansão da ofensiva, Israel espera reduzir significativamente a capacidade do Hezbollah de lançar foguetes Katiusha, de curto alcance, contra o país, já que a maioria dos projéteis provém da área ao sul do rio. A estimativa, segundo um ministro, é que a operação dure uns 30 dias.
Milhares de soldados aguardam no norte de Israel a ordem de avançar. Segundo a TV britânica BBC, seriam 30 mil. Outros 10 mil estão há dias em três áreas do sul libanês. A decisão israelense surgiu num momento em que o governo se viu diante de vários fatores negativos:
1) A via diplomática está estancada. Nenum dos lados abre mão de suas exigências.
2) Sábado a guerra faz um mês sem que o governo israelense tenha cumprido sua meta de derrotar o Hezbollah, impedindo-o de lançar foguetes. Ontem o grupo disparou mais de 180, ferindo duas pessoas.
3) A população de Israel mostra crescente impaciência pelo fato de o Exército não conseguir vencer o Hezbollah. Há forte pressão interna para o aumento do uso da força no Líbano.
4) As baixas israelenses aumentaram nas últimas semanas por causa dos combates.
No campo diplomático, o subsecretário de Estado dos EUA David Welch foi a Beirute negociar com o primeiro-ministro Fuad Siniora a proposta de resolução franco-americana que seria levada ao Conselho de Segurança da ONU para pôr fim ao conflito. "Não houve progresso", disse depois Siniora. O Líbano, com apoio dos países árabes, exige primeiro um cessar-fogo incondicional e a retirada das tropas israelenses, para que seu Exército e uma força multinacional de paz sejam enviados ao sul. Israel, com apoio dos EUA, só aceita sair depois da chegada desse contingente.
O presidente francês, Jacques Chirac, pediu que os EUA cedam a algumas exigências árabes e disse que deixar a situação piorar "é imoral". Ele disse que se não houver acordo no CS a França pode apresentar, sozinha, nova proposta.
Números 1.005civis libaneses morreram, segundo o governo do Líbano
116 israelenses é o número oficial de mortos