Título: As saídas estratégicas para Israel
Autor: Daniel Jonah Goldhagen
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2006, Internacional, p. A18

Pela segunda vez na longa história do conflito no Oriente Médio, um inimigo de Israel realmente disse: pouco importa o que você fizer.

O Hezbollah - ao decidir não devolver os dois soldados capturados em 12 de julho e bombardear Israel - declarou que não se preocupa se sua posição belicosa levar Israel a atacar cidades do Líbano, arruinar a economia do e país e matar seu povo. O que mais importa é infligir danos a Israel, enfraquecendo seu moral e levando-o a um nível de destruição que incitará o ódio mundial.

Os palestinos disseram o mesmo com sua segunda intifada e seus atentados suicidas. Mas desta vez é diferente porque a chuva diária de foguetes do Hezbollah sobre Israel pressagia um ataque militar intolerável e sem fim.

O que Israel pode fazer - o que poderia qualquer país fazer - contra semelhante inimigo? Exceto por um desesperado Saddam Hussein durante a Guerra no Golfo, outros países e Exércitos que teriam gostado de destruir Israel não visaram a cidades israelenses por saber que Israel bombardearia intensamente Cairo, Amã ou Damasco. Israel tinha capacidade de dissuasão. Se um inimigo tivesse ousado um ataque desses, Israel poderia tê-lo compelido a parar infligindo grandes danos. Com o Hezbollah - e com o Hamas também - a capacidade de Israel de dissuadir ataques ou forçar a uma paralisação se perdeu.

O terceiro meio estratégico de lidar com um inimigo - fazendo uma paz genuína - não tem sido possível porque o Hezbollah e o Hamas se comprometeram expressamente com a destruição de Israel. Eles vêem qualquer cessação de hostilidades como um interlúdio antes de um novo ataque.

Israel adotou então a quarta possibilidade estratégica: devastar seu perigoso inimigo, o que também restauraria sua capacidade de dissuasão.

Mas Israel descobriu que contra combatentes que parecem civis e cujos foguetes estão escondidos por toda parte, ele precisa lutar por mais tempo e ocupar e destruir muito mais do Líbano do que poderia julgar moral, sábio ou factível. Mesmo uma futura força internacional no sul do Líbano - cuja possibilidade é altamente incerta - talvez seja incapaz de conter o Hezbollah e ainda deixaria o norte de Israel ao alcance dos foguetes do Hezbollah.

Que estratégias restam? A de número cinco é intolerável: conviver com os ataques correntes de foguetes, que provavelmente aumentarão, ao norte de Israel e além. O líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, prometeu que "há muitas cidades no centro (de Israel) que serão visadas na fase 'além de Haifa'". A sexta opção é forçar os fornecedores e patronos do Hezbollah - Síria e Irã - a pararem o terror. Nenhum dos dois países quer uma guerra com Israel, militarmente superior (a despeito da verborragia belicosa da Síria). Se cada míssil do Hezbollah em Israel produzisse uma retaliação israelense contra a Síria, e possivelmente o Irã (incluindo seus locais de produção nuclear), Síria e Irã seriam obrigados a conter o Hezbollah. Obviamente, esta é uma opção desesperada. Provocaria uma escalada do conflito e aumentaria a pressão internacional para que Israel desista.

Todas as opções estratégicas de Israel são más, ou ineficazes, ou indesejáveis. No entanto, esta última opção seria a mais passível de restabelecer a dissuasão crítica para a sobrevivência futura de Israel - e para a paz na região - demonstrando o persistente poder de Israel para forçar um fim dos ataques. E poderia evitar uma devastação ainda mais profunda do Líbano.

Não se enganem: Israel está lutando pela vida. Ele enfrenta um tipo historicamente novo de inimigo fanático, o islamismo político, que combina três características: uma ideologia político-religiosa que prega a aniquilação de seus inimigos; indiferença diante da morte de sua própria gente, e mesmo sua celebração (porque os mártires são premiados com um lugar no paraíso); e tecnologias (mísseis) e técnicas (atentados suicidas) de terror praticamente impossíveis de serem contidos.

Os políticos islâmicos se sentem encorajados por seu recém-descoberto poder. Como bravateou Nasrallah, "quando 2 milhões de israelenses já foram desalojados, ou obrigados a permanecer em abrigos antibombas por mais de 18 dias?" E o perigo aumentará milhares de vezes se o Irã, o epicentro do islamismo político e mestre do Hezbollah, alcançar sua própria invulnerabilidade com armas nucleares, de forma que também possa lançar foguetes e outros tipos de ataques contra seus muitos alvos. O ex-presidente e atual intermediário do poder no Irã, Hashemi Rafsanjani, falou candidamente em 2001: "O uso de apenas uma bomba nuclear em Israel destruirá tudo", disse ele, embora isso também fosse prejudicar o mundo islâmico. "Não é irracional", prosseguiu, "estudar tal eventualidade." Um Irã nuclear, compartilhando a aversão de Hezbollah e Hamas pela própria existência de Israel, é um inimigo com 1 milhão de vezes a riqueza e poder destrutivo para fundar, financiar e suprir muitos outros Hezbollahs contra muitos mais inimigos, incluindo o odiado Ocidente.

Os inimigos políticos islâmicos de Israel estão estudando e se rejubilando com a nova situação geoestratégica. Os alvos finais desses totalitários - todos "infiéis", especialmente aqui e na Europa - deveriam estudá-la também, ser sensatos e perceber que Israel, com esta guerra por sua autodefesa, para restabelecer um equilíbrio geoestratégico, e por sua sobrevivência futura, está em última análise lutando por eles também.