Título: Alarcón tenta justificar silêncio sobre Fidel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2006, Internacional, p. A19

O presidente da Assembléia Nacional cubana (Parlamento), Ricardo Alarcón, justificou ontem o silêncio oficial sobre o estado de saúde do líder Fidel Castro sob a alegação de que "Cuba enfrenta a ameaça explícita de criminosos dos Estados Unidos".

"Eles fizeram ameaças concretas contra Cuba", disse Alarcón em entrevista à emissora cubana Rádio Rebelde. "Por isso as informações sobre a saúde do comandante Fidel e a condição atual do país precisam ser cuidadosas e limitadas apenas ao indispensável."

"A Casa Branca tem uma lei que estabelece o propósito de acabar com o governo revolucionário cubano e declarou que não permitirá uma administração liderada por Raúl Castro", comentou Alarcón, referindo-se ao Programa para uma Cuba Livre, aprovado em julho pelo Congresso dos Estados Unidos. Algumas medidas do programa americano foram classificadas como secretas por "razões de segurança".

"Em 10 de julho ratificaram esse plano e disseram além disso que alguns pontos dele são secretos", declarou.

"O que mais precisamos para nos dar conta de que realmente estamos diante de uma ameaça muito clara e muito direta?", prosseguiu Alarcón. "Não podemos subestimar a ameaça explícita de um país tão poderoso, que está governado por um grupo de bandidos - e essa é a única palavra que conheço para descrever essa gente que promove o terrorismo contra Cuba."

Qualificadas pelo próprio Fidel de segredo de Estado, as informações sobre a saúde do líder se tornaram ainda mais escassas nos últimos dias.

Ontem, a líder indígena e Prêmio Nobel guatemalteca Rigoberta Menchú; o presidente venezuelano, Hugo Chávez; e o ex-presidente e candidato presidencial nicaragüense Daniel Ortega fizeram declarações separadas, mas coincidentes, segundo as quais Fidel se recupera bem da cirurgia a que se submeteu para estancar uma hemorragia intestinal. O líder cubano completa 80 anos neste domingo.

O irmão de Fidel, Raúl Castro, designado sucessor temporário, continua sem fazer aparições públicas.

Convocados pelas centrais sindicais, trabalhadores têm realizado centenas de manifestações públicas de solidariedade a Fidel e lealdade a Raúl em várias cidades de Cuba.

Em Havana, centenas de pessoas agitavam ontem pequenas bandeiras cubanas e cantavam o hino nacional numa praça central, enquanto militantes comunistas discursavam sobre um caminhão.

"Longa vida a Fidel! Longa vida a Raúl!", gritavam homens, mulheres e crianças.