Título: População mais velha será novo desafio
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2006, Economia, p. B5
A queda na taxa de natalidade no Brasil e a melhoria da expectativa de vida deverão provocar grandes alterações no mercado de trabalho nas próximas décadas. Para os próximos quatro anos, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) avalia que a taxa de desemprego será menor que a média do período 1992-2004, de 10%, por conta da diminuição da pressão do ingresso de mão-de-obra no mercado a cada ano. Em 2030, tenderá a minguar mais, e a oferta de trabalho terá de responder a um novo traço - o envelhecimento da mão-de-obra e a oferta restrita de braços jovens.
O estudo do Ipea "Brasil, o Estado de Uma Nação - Mercado de Trabalho, Emprego e Informalidade", divulgado ontem, mostra que, a médio prazo, aumentará a contratação de pessoas mais velhas e diminuirá a de jovens.
A partir de 2010, a parcela jovem da População em Idade Ativa (PIA) cairá substancialmente, em razão da taxa de fecundidade menor, que foi de 2,1 filhos por mulher em 2004. Se entre 2000 e 2005, a PIA aumentou cerca de 2% ao ano, por força do ingresso de mão-de-obra mais jovem, entre 2023 e 2030 cairá 0,9% anualmente.
Resultado: quase a metade da PIA (47%) será composta por uma população maior de 45 anos em 2030. Conseqüentemente, a legislação trabalhista e as empresas terão de se adaptar para manter na ativa uma "força de trabalho mais madura, mais sujeita a riscos físicos, com menor agilidade e força física e menos instruída que os jovens". Portanto, os trabalhadores deverão passar mais tempo de sua vida na atividade econômica. Para homens, aumentará de 38,4 para 39,4 anos. Para mulheres, serão 5,6 anos mais.
O Ipea captou também as tendências de ingresso mais tardio da força de trabalho masculina no mercado, assim como em ritmo mais lento que no passado. A participação dos homens na População Economicamente Ativa (PEA) deverá cair de 60% para 53%. As mulheres sairão de 40% para 47%.
Trata-se de um quadro bastante diferente daquele observado entre 1992 e 2004 pelo Ipea. Nesse período, a taxa de desemprego aumentou de 7,2% da População Economicamente Ativa (PEA) para 9,7%. O número de pessoas desempregadas cresceu 78,4%, sobretudo nas regiões metropolitanas (95%). Com exceção do Sul, com crescimento de 50%, todas as demais regiões assistiram ao aumento da população desempregada em cerca de 80%.
Para mulheres, o aumento foi de 107,7%, e para chefes de família, 77,3%. Esses porcentuais seriam ainda mais dramáticos se contabilizado o desalento, ou seja, pessoas que desistiram da procura por um emprego e não engrossam essas estatísticas oficiais de desemprego.
O Ipea ressalta que esse quadro foi resultado de sucessivas crises econômicas, nos anos 90, e dos processos de reestruturação produtiva e de maior abertura à concorrência externa. Mas refletiu em boa medida a pressão dos contingentes de jovens trabalhadores que ingressavam no mercado de trabalho a cada ano - uma decorrência do "baby boom" dos anos 70, como alertou o presidente do Ipea, Luís Henrique Proença.
Se a taxa de desemprego disparou em 78,4% de 1992 a 2004, a população ocupada no Brasil cresceu 28,5%, o que significou a criação de 17,5 milhões de postos de trabalhos, em termos líquidos. Embora expressiva, essa cifra foi insuficiente para cobrir o desemprego acentuado no período.