Título: FMI ataca política argentina de combate à inflação
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2006, Economia, p. B7

O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu ontem a Argentina dos perigos de sua política de controle de preços. "Os diretores consideram que as medidas administrativas adotadas para controlar a inflação só oferecem benefícios temporários", alertou o fundo no chamado "Artigo Quarto", um informe anual em que avalia a situação da economia argentina.

As críticas ocorrem oito meses depois de o presidente Néstor Kirchner ter autorizado o pagamento antecipado das dívidas do país com o organismo, que somavam pouco mais de US$ 9,5 bilhões.

"Alguns diretores (do fundo) apoiaram o uso, no curto prazo, de determinadas medidas para frear as expectativas inflacionárias", informou o relatório. Entretanto, "a maioria aconselhou que medidas desse tipo sejam derrubadas o mais rapidamente possível, uma vez que reprimir os preços nas indústrias reguladas, (impor) acordos seletivos sobre os preços e limitar as exportações vão, ao final, exacerbar a capacidade de alguns setores-chave e prejudicar o entorno empresarial."

O governo Kirchner aplica, desde dezembro, uma política ativa de negociações com empresas e setores formadores de preços, num esforço para reduzir expectativas inflacionárias detectadas no país.

O FMI salientou, no entanto, que a inflação permanece "alta" na Argentina e pode alcançar 12% no fim deste ano. A instituição descartou a idéia de que se trate de um fenômeno temporário. Segundo o organismo, "o crescimento da demanda não foi atendido por uma oferta suficientemente rápida".

Para fazer frente ao perigo que considera maior para o país - o desequilíbrio fiscal -, o fundo recomendou um ajuste nos gastos do Estado e uma elevação das taxas de juros. .

Os diretores do FMI pediram "maior flexibilidade na taxa de câmbio" e advertiram que, se a Argentina não seguir orientações desse tipo, "poderá aumentar signficativamente o custo econômico de reduzir a inflação e poderá deixar a economia vulnerável a choques".

No informe, o fundo defende que o governo deve buscar acertar a situação com credores públicos e privados que não aceitaram a proposta de renegociação de dívida feita um ano atrás pelo governo argentino.

O FMI fez também algumas observações positivas a sobre a economia do país, que cresce fortemente há três anos. Ressaltou ainda que a situação social melhorou, o que pode ser detectado por estatísticas - segundo o fundo, a pobreza passou de 57% em 2002 para 34% no fim do ano passado.

INVESTIMENTO O ministro do Planejamento da Argentina, Julio De Vido, disse ontem que o governo aplaude a chegada de capital estrangeiro, mas acredita que os recursos internos são suficientes para sustentar o crescimento. "Estamos ouvindo as vozes que dizem que a taxa de crescimento não se sustentará há quatro anos", afirmou. "Dizem que a única forma de evitar isso é atraindo investimento externo. Mas se mobilizarmos o capital que os argentinos guardam teremos condições de financiar o investimento que sustentará a expansão."