Título: Exército teme uso político da ação em São Paulo
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2006, Metrópole, p. C1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai tentar convencer o governador Cláudio Lembo (PFL), em reunião amanhã, na Base Aérea de São Paulo, a aceitar a ajuda de 10 mil homens do Exército. Mas o emprego de tropas federais em São Paulo divide o governo. Ninguém admite oficialmente, mas a opinião preponderante no Planalto é que poderia ser positivo mostrar a fragilidade da política de segurança pública do Estado, atingindo o tucano Geraldo Alckmin, adversário de Lula na campanha pela reeleição. Mas oficiais das Forças Armadas resistem à convocação, embora não se neguem a cumprir ordens, pois consideram que há uso político da ajuda dos militares.

Apesar das resistências, os militares já fizeram estudos e planos para atuar no Estado, tão logo sejam convocados. Inúmeras reuniões estratégicas têm sido realizadas para a preparação dos trabalhos operacionais. Ontem, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, após encontro pela manhã com Lula, participou de uma nova reunião à tarde, com integrantes das três Forças, da Defesa, da Agência Brasileira de Inteligência e da Polícia Federal.

Lula está irritado com a polêmica e ontem, durante almoço oferecido ao primeiro-ministro de Portugal, mais uma vez reagiu ao ser questionado se não estava sendo muito duro com o PSDB. "Não fui duro, não. Tem de parar com este bate-boca", disse o presidente. "Vou me encontrar com Lembo e oferecer novamente o Exército. Vou dizer que os 10 mil homens já estão à disposição."

O presidente também se mostrou irritado ao falar sobre a polêmica de transferência de detentos de presídios estaduais para federais, medida também questionada pelo governo paulista. "O governador tem de pedir (as vagas). Não sou chefe dos carcereiros para discutir isso."

A insistência no uso de tropas federais em São Paulo tem dominado as conversas nos meios militares. Os oficiais entendem que há uma disputa política por trás de tudo. Acham que, com o início das operações militares, o PCC recuará imediatamente. Nas conversas, os militares lembram que esta guerra também não interessa ao crime, pois eles devem estar sofrendo prejuízos com as ações constantes da polícia.

Embora aleguem que a ida do presidente Lula a São Paulo já estivesse marcada, a data é considerada bastante providencial. É antevéspera do Dia dos Pais, quando se espera que o PCC ordene novos ataques. Como nas Forças Armadas há a convicção de que o governo estadual não aceitará o uso das tropas federais, se houver novos ataques, o Planalto terá motivos para acusar politicamente o governo Lembo, alegando que ele está colocando a população em risco, para não se submeter politicamente a Brasília.

A expectativa em relação a esta polêmica e ao que poderá acontecer é tão grande que o ministro da Defesa, Waldir Pires, acabou cancelando uma visita que faria ao Paraguai amanhã. Decidiu, em vez de visitar o país vizinho, acompanhar de perto a visita de Lula ao quartel em São Paulo e ajudar a insistir na necessidade do emprego das tropas federais no combate ao crime organizado em São Paulo.