Título: Sem acordo, empresa diz que iniciará os cortes
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2006, Economia, p. B1

Ao mesmo tempo em que seu representante estava em Brasília com ministros, a direção da Volkswagen informava ontem aos trabalhadores de São Bernardo do Campo que não conseguiu chegar a um acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Diante disso, iniciará o envio de cartas para um grupo de trabalhadores que será demitido em novembro, sem pacote de incentivos. Hoje, os trabalhadores fazem assembléia para aprovar a reação aos cortes.

Em nota distribuída aos empregados ontem por volta das 14h30, a Volks afirmava que, "considerando não ter sido possível chegar a um entendimento, nos próximos dias será dado início ao processo de comunicação aos empregados que serão desligados após 21 de novembro", período em que vence o o acordo de estabilidade feito em 2001. Nessa primeira leva estão previstas 1,8 mil demissões.

A Volkswagen falava inicialmente em demitir 3,6 mil funcionários até 2008. Na semana passada disse que, sem um acordo para o plano de reestruturação, 6,1 mil vagas seriam eliminadas, metade do quadro atual, de 12 mil pessoas. Também ameaçou fechar a fábrica.

Nenhuma reunião estava agendada para hoje entre a Volks e os trabalhadores. Ainda assim, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, disse estar "aberto a possibilidades" até as 14h30, horário da assembléia.

Durante as negociações realizadas de quarta-feira até domingo, a Volks insistiu no plano de reestruturação que prevê redução de benefícios trabalhistas e eliminação de 3,6 mil vagas. O sindicato queria ao menos que fosse por meio de programa de demissão voluntária (PDV), em que o interessado recebe incentivos para sair. Mas a montadora quer indicar quem sairá.

Hoje, os trabalhadores devem aprovar um calendário de protestos. A própria montadora já anunciou férias coletivas entre os dias 18 e 28, o que reduziria o impacto de uma greve neste momento. Além disso, há estoque de automóveis para cerca de 40 dias de vendas.

SEM INVESTIMENTO

A Volks alega que, sem a reestruturação, anunciada em maio, a fábrica Anchieta não será incluída no plano de novos investimentos que será definido pela matriz em setembro, na Alemanha.

Inaugurada oficialmente em 1959 pelo presidente Juscelino Kubitschek, a Anchieta marcou o início da produção de carros em larga escala no País. Os primeiros modelos a saírem da linha foram Kombi e Fusca. Hoje, a fábrica ainda produz a Kombi, além de Gol, Saveiro, Polo e Fox Europa.

Apesar de ter recebido investimentos de R$ 2,1 bilhões para a produção do Polo e do Fox, a fábrica é considerada obsoleta e de baixa produtividade. Somado a isso, a empresa alega perda de contratos de exportação do Fox para o mercado europeu por causa do real valorizado.

A produção atual, de 900 veículos por dia, deveria baixar para 700 em 2008 (se houvesse reestruturação). Sem o processo, diz a montadora, a produção não deve passar de 300 unidades diárias, o que tornará inviável a manutenção da fábrica.