Título: BNDES suspende crédito da Volks
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2006, Economia, p. B1

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) suspendeu um empréstimo de R$ 497 milhões à Volkswagen do Brasil, já aprovado, até que a montadora conclua as negociações com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sobre a sua reestruturação no País.

O anúncio foi feito ontem pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e pelo presidente do BNDES, Demian Fiocca, após reunião no gabinete da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, da qual também participou o vice-presidente de Recursos Humanos da empresa, Josef Fidelis Senn.

O governo resolveu usar uma questão técnica para pressionar a montadora a buscar acordo com o sindicato, que não aceita a proposta da empresa para demitir até 3,6 mil funcionários da unidade do ABC. A empresa, no entanto, informou aos trabalhadores que não conseguiu um acordo com o sindicato.

Fiocca disse que, na justificativa do pedido do empréstimo, a Volks não incluiu o fechamento de fábricas, mas investimentos em novos modelos, modernização e reestruturação de linhas de montagem. Ele explicou que a notícia de que a fábrica de São Bernardo poderia ser fechada é um "fato novo" que pode afetar essa estratégia de investimentos e, por isso, deve ser explicado ao BNDES.

Na semana passada, a direção da montadora deu um ultimato ao sindicato: ou aceitavam o plano de reestruturação ou a unidade poderia ser fechada. "Essa possibilidade de desmobilização de algumas atividades não tinha sido colocada no primeiro momento e é um fato novo cujo impacto no plano de investimentos apresentado tem que ser avaliado", afirmou Fiocca.

Segundo o presidente do BNDES, a aprovação do empréstimo, em abril, ocorreu após o anúncio de reestruturação mundial da Volks. Ele acrescentou que a direção da montadora disse que só teria condições de responder se haverá modificação nesse plano após fechar acordo com os trabalhadores. A liberação do dinheiro, completou Fiocca, está também dependendo de "outras questões técnicas" porque a operação ainda envolve bancos privados.

Segundo Marinho, o empréstimo não está vinculado à manutenção de empregos "porque o governo não participa desse tipo de negociação". Ele enfatizou, no entanto, que é papel do BNDES considerar o impacto do plano de investimentos na economia do País. "Enquanto não se consolidar a negociação, o BNDES vai aguardar para a liberar os recursos", disse o ministro.

A reunião com a montadora foi marcada, a pedido do governo, na semana passada, quando as discussões com o sindicato ficaram tensas. A Volks apresentou em maio um plano que inclui a demissão de quase 6 mil trabalhadores nas três fábricas: São Bernardo do Campo (3,6 mil), São José dos Pinhais (1,4 mil) e Taubaté (700). Só os 4,5 mil de Taubaté aceitaram o plano e 160 deixaram a empresa com incentivos. Outras 140 saem até dezembro e o restante, nos próximos dois anos. Em troca, a matriz se comprometeu a investir na unidade.