Título: Para mercado, juro cai 0,25 ponto
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2006, Economia, p. B4

O Comitê de Política Monetária (Copom) deverá cortar os juros em 0,25 ponto porcentual na reunião que começa hoje e termina amanhã. A opinião é da maioria dos analistas financeiros que participam da pesquisa feita semanalmente pelo Banco Central (BC). Com a queda, a taxa Selic cairia dos atuais 14,75% para 14,5% ao ano.

O economista-chefe do Banco Calyon, Dalton Gardiman, porém, acredita que a redução poderá ser maior. "Acho que o BC cortará os juros em 0,5 ponto porcentual." Neste caso, a taxa atingiria 14,25% ao ano. Segundo o economista, a opinião de que o corte será de apenas 0,25 ponto, já não era unânime no mercado ontem.

Ainda no fim da semana passada, bancos, como o Citibank, mudaram suas projeções de corte de juros de 0,25 para 0,5 ponto porcentual. A alteração, segundo um economista de uma dessas instituições financeiras, foi motivada por uma perspectiva de que o ritmo de crescimento da economia pode estar abaixo do esperado.

A própria pesquisa do BC divulgada ontem captou uma queda das projeções de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e no próximo. Para 2006, a expectativa recuou pela terceira vez seguida, de 3,53% para 3,5%. As projeções de expansão no próximo ano caíram, ao mesmo tempo, de 3,7% para 3,5%, após 19 semanas de estabilidade das previsões.

"Na nossa opinião, 3,5% de aumento do PIB neste ano passou a ser o teto das previsões", disse Gardiman. Ele próprio comentou que aguarda apenas a divulgação do PIB do segundo trimestre, na próxima quinta-feira, para revisar sua estimativas de 3,5%. "O crescimento deverá ficar entre 3% e 3,5%."

Com a atividade morna, as projeções do mercado financeiro para a variação do IPCA neste ano foram reduzidas pela segunda semana seguida, de 3,73% para 3,68%. "Com a atividade em ritmo lento e a inflação sob controle, o BC tem condições, neste momento, de ser menos ortodoxo do que foi no passado recente", disse Gardiman.

Para 2007, as estimativas de inflação continuaram em 4,5%, em cima da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Mas já surgem sinais de que a projeção poderá cair nas próximas semanas para um patamar abaixo dos 4,5%. Um deles é a previsão das cinco instituições que mais acertam as previsões na pesquisa do BC, que já se encontra em 4,4%.

O economista do Banco Calyon destacou que não há, no momento, fatores de pressão sobre os preços. Ele lembrou que a maioria dos analistas trabalha com a expectativa de que o presidente eleito fará um forte ajuste das contas públicas já no início do mandato. Diante disso, ele não descarta a hipótese de a taxa de juros terminar 2006 abaixo dos 14% ao ano projetados na pesquisa do Banco Central.