Título: Kawall nega risco de crise fiscal
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2006, Economia, p. B9

O secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, disse ontem "não há nada que sugira que estamos caminhando para uma situação de crise". Aparentemente, foi uma reação às várias críticas que vêm sendo feitas ao governo pelo aumento das despesas correntes federais.

"Não é razoável pegar uma tendência de curto prazo e extrapolar para o longo prazo", afirmou Kawall, para quem não cabe falar que se está formando um problema fiscal para 2007. Ele reafirmou sua confiança em que o superávit primário (receitas menos despesas exceto juros) do setor público, atingirá a meta de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB).

No próprio evento em que o secretário fez as declarações, o seminário "Grau de Investimento - o Grande Desafio do Próximo Presidente", economistas como o ex-presidente do Banco Central (BC) e diretor da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Langoni, o ex-diretor do BC e professor da PUC-Rio Ilan Goldfajn criticaram a expansão dos gastos públicos. Destacaram que os recursos para pagar isso tendem a vir do aumento da carga tributária, o que restringe o potencial de crescimento.

Para Goldfajn, a não-inclusão da redução de despesas correntes federais em 0,1% do PIB na proposta orçamentária para 2007 "é um retrocesso" porque a diminuição proporcional dos gastos correntes federais estava prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

O sócio-diretor da consultoria Rosenberg Associados, Luís Paulo Rosenberg, considera que "o drama do gasto público" é que ele depende de políticos. "Um gaiato querendo se reeleger aumenta o salário mínimo e o patamar da despesa corrente. Agora, para trazer isso para baixo, vai ter de fazer eventualmente uma emenda constitucional com quatro votações no Congresso", disse o economista, sem citar o nome do presidente Lula e defendendo uma reforma da previdência.

EMISSÃO

O secretário do Tesouro deixou o evento durante a apresentação de Rosenberg, sem dar entrevista. Durante sua palestra, Kawall contou que no período de 2007 e 2008 o Brasil poderá fazer uma captação de recursos no exterior com papéis em reais e juros prefixados, de dez ou mais anos, assim como um novo programa de recompra de títulos mais antigos.

Em São Paulo, no seminário "Brasil: Back on Track", promovido pela LatinFinance, Kawall explicou que uma nova emissão brasileira em reais no mercado externo é uma "ação qualitativa desejada", mas ressaltou que este momento não é propício para uma nova colocação de papéis, dadas as incertezas que rondam o mercado internacional, por conta das perspectivas para a economia americana. "Vamos avaliar as oportunidades e, quando for oportuno, poderemos voltar ", comentou, ressaltando que o governo brasileiro não tem uma necessidade "urgente", que justifique uma emissão em reais neste momento.

Ele, entretanto, indicou que qualquer nova colocação deverá ser superior a US$ 500 milhões. "No caso das emissões brasileiras em reais, o mínimo tem sido de US$ 500 milhões a US$ 750 milhões. No ano passado, se fez de US$ 1,5 bilhão. Foi possível naquele momento, mas não sei se hoje seria." Segundo ele, uma emissão desse tipo precisa de condições domésticas e externas igualmente favoráveis, o que não ocorre hoje. "Neste momento, essa combinação é um pouco mais difícil, mas acreditamos que oportunidades ocorrerão e vamos aguardar com paciência."

Kawall afirmou que o Brasil pode atingir o investment grade até o fim do próximo mandato presidencial. "Não trabalhamos com bola de cristal que nos dê prazos e datas, mas tenho convicção de que o grau de investimento é plausível. Acho que dentro do próximo mandato presidencial é uma boa aposta."