Título: Caciques ajudam tucano no NE, mas eleitor não vai atrás
Autor: Ana Paula Scinocca e João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2006, Nacional, p. A11
As lideranças políticas do Nordeste mandam no aparelho do Estado, fazem acordos de ocasião com quem está no poder central, mas têm um desempenho sofrível na tarefa de transferir votos para o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin. Apesar de contar com apoio de caciques de todos os nove Estados, o tucano tem apenas 13% das intenções de voto na região, de acordo com o levantamento mais recente do Ibope.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à reeleição, que não tem apoio de nomes de grande expressão na Bahia, no Ceará e em Pernambuco, conta com 66% das intenções de voto do eleitorado nordestino, ainda segundo o Ibope - é a região onde Lula tem seu melhor desempenho nas pesquisas.Também é nessa região que o presidente provoca o maior racha nas oposições, pois conta com o apoio velado de Roseana Sarney, candidata ao governo do Maranhão pelo PFL, partido da aliança política formal de Alckmin. Apesar dos esforços da cúpula pefelista e do próprio Alckmin, Roseana não declarou neutralidade na campanha.
Para tirar a candidatura de Alckmin do "limbo" nos Estados do Nordeste, o PSDB prepara uma ofensiva que prevê, para a próxima sexta-feira, no Recife, uma série de ações políticas, além do lançamento do programa Novo Nordeste, com sugestões para o desenvolvimento econômico da região.
Os tucanos querem que o candidato atinja ao menos 30% das intenções de voto, o que, pelos cálculos dos coordenadores da campanha, seria suficiente para o candidato chegar ao segundo turno. Hoje, segundo pesquisas internas do próprio PSDB, Alckmin oscila entre 15% e 20% no Nordeste. No Ceará, o último registrou 70% pró-Lula e 14% pró-Alckmin.
TIMING
A justificativa das lideranças políticas nordestinas para o fato de as pesquisas revelarem esse desempenho de Alckmin é o momento da campanha. Pela regra do voto dirigido, o eleitor nordestino ainda não teria sido convocado a optar segundo as indicações dos líderes regionais. "Cacique só manda votar em véspera de eleição. Caso contrário, o povo esquece", diz um influente político nordestino.
Baseados na tese, líderes que defendem a candidatura de Alckmin apostam que é possível reduzir a desvantagem em relação a Lula na região em que ele é franco favorito. "Dá para tirar, sim, a diferença e avançar bastante", avalia o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), que integra a coordenação da campanha do tucano. "Não tenho a menor dúvida de que Alckmin ainda vai crescer muito no Nordeste", acrescenta o senador Sérgio Guerra (PE), coordenador-geral da campanha. Para Guerra, a campanha eleitoral "está apenas começando", daí o fraco desempenho de Alckmin, um político conhecido mais em São Paulo, e a boa performance de Lula, presidente e nordestino.
Guerra não fala em caciquismo no Nordeste, assim como outros líderes políticos evitam o tema. Para o senador pernambucano, o fraco desempenho tucano na região segue o ritmo eleitoral deste ano: a campanha começou tardiamente por falta de dinheiro, por causa das mudanças na legislação eleitoral e pela desmotivação do eleitor diante dos escândalos políticos.
Político influente em Alagoas, o usineiro João Lyra (PTB), pai de Tereza Collor, ex-sogro de Pedro Collor e candidato ao governo do Estado, é "100% Lula". Ele diz que em seu Estado o petista seguirá o mesmo modelo adotado em Pernambuco, isto é, Lula vai contar com o apoio e o palanque dele e mais o apoio e o palanque da candidata do PT, Lenilda Lima. "Vamos fazer campanha todos juntos." Lula é esperado em Alagoas no início do próximo mês.