Título: García assume presidência prometendo reduzir pobreza
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2006, Internacional, p. A24

O social-democrata Alan García assumiu ontem a presidência do Peru, 16 anos após deixar o cargo, com o desafio de manter a economia crescendo com uma melhor distribuição de renda. Ele terá um mandato de cinco anos que lhe dará a oportunidade de redimir-se de ter deixado o Peru no caos econômico e em meio à violência política. "Minha primeira meta é conseguir que, em dez anos, o Peru seja um país líder", afirmou. A volta de García, após seu desastroso primeiro governo (1985-1990), que terminou em hiperinflação e falta de alimentos, é extraordinária para um presidente que por anos foi criticado pela maioria dos peruanos.

García, um advogado de 57 anos, prestou juramento no Congresso do Peru em meio a aplausos de deputados, ministro, juízes e mais de duas dúzias de líderes estrangeiros, entre eles os presidentes do Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Panamá e Honduras.

Em seu discurso, García criticou os gastos e as extravagâncias do governo de seu antecessor, Alejandro Toledo, e detalhou as medidas de austeridade que adotará. Elas incluirão uma drástica redução dos gastos do Estado (a começar pelo salário do presidente, que cai de US$ 12 mil para US$ 5 mil) para alcançar as metas de reduzir a pobreza e pôr o país de 27 milhões de habitantes numa posição de liderança regional.

"O Peru vive uma catástrofe social, com 13 milhões de pobres, dos quais 5 milhões na maior miséria. Isso explica o voto nacional de protesto nas eleições. O país pede uma mudança social", declarou.

García também pediu a aceleração da integração na América Latina para que os países possam enfrentar a globalização que "incentiva a desigualdade e a exclusão social". Ele destacou a necessidade de encaminhar o diálogo para a formação do mercado comum sul-americano.

Pesquisas mostram que 50% dos peruanos mantêm sua aprovação a Garcia depois das eleições, mas também indicam que mais pessoas estão céticas em sua administração.

Após derrotar o nacionalista Ollanta Humala no segundo turno em 4 de junho, García prometeu que não repetirá os erros de seu primeiro governo, quando os cargos foram distribuídos em sua maioria a membros de seu Partido Aprista.

García designou um gabinete formado por membros de partidos esquerdistas e tecnocratas independentes. Numa escolha que deve tranquilizar a comunidade financeira internacional, ele designou o ex-diretor do Banco Central Luis Carranza, um linha-dura do conservadorismo fiscal, para a pasta da Economia e Finanças. Também se destaca a escolha de mulheres para comandar 6 dos 16 ministérios, incluindo os da Justiça, com María Zavala, e Interior, com Pilar Mazzetti.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em Lima que García "terá a oportunidade de fazer o país crescer e de distribuir a renda entre os pobres". Sobre as futuras relações bilaterais, Lula disse que a construção da estrada interoceânica, que facilitará o acesso do Brasil ao Pacífico, "fará o comércio entre os dois países crescer de forma extraordinária".