Título: Banco Mundial investe US$ 12 mi em faculdades
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2006, Vida&, p. A25

O Banco Mundial (Bird) acaba de investir US$ 12 milhões no ensino superior privado brasileiro. A transação ocorreu por meio de um fundo criado pelo Banco Pátria, em 2005, que busca cotas ou ações à venda na área de educação. A primeira operação foi adquirir 70% do controle acionário da Anhanguera Educacional, um conglomerado do interior do Estado de São Paulo com mais de 20 mil alunos em quatro faculdades e um centro universitário. A instituição receberá o dinheiro do Bird e de outros investidores do fundo.

Essa foi a primeira vez em que o Banco Mundial direcionou recursos para universidades particulares do Brasil. O negócio foi efetuado pelo braço privado da entidade, o International Finance Corporation (IFC). O Bird foi fundado em 1944 para ajudar no desenvolvimento de países pobres. ¿É um investimento que dá retorno e ainda oferece acesso ao ensino superior para população de baixa renda¿, disse o responsável pela área de Educação e Saúde do IFC, Alexandre Oliveira. ¿À medida que o Brasil se estabiliza, essa se torna uma área atrativa.¿

Antes do Brasil, o IFC investiu em educação privada do México, Chile, Turquia e Nigéria, entre outros. A entidade foi apresentada à Anhanguera Educacional no início do ano, quando um dos proprietários da instituição, Antonio Carbonari Neto, esteve em Washington. ¿Para expandir, precisávamos de recursos¿, diz ele, que mostrou à entidade uma empresa cujo crescimento anual passava de 40% na última década - em número de alunos, professores e faturamento.

¿Nossos currículos são enxutos, a empresa é bem administrada e conseguimos oferecer mensalidades baixas¿, completa Carbonari. Um curso de Veterinária, por exemplo, na Anhanguera custa R$ 599 por mês, menos da metade do cobrado pela maioria das instituições. ¿Quem investir no fundo, vai ganhar muito com a valorização das ações¿, garante ele, que, com o outro antigo sócio, tem agora apenas 30% do controle da empresa.

Dos cinco diretores do grupo, um é representante do fundo, mas, segundo Carbonari, não interfere nas questões acadêmicas. ¿Ele só cuida da expansão.¿ O plano é chegar a 25 cidades até 2010.

FÁBRICA DE SABONETES ¿Isso é extremamente perigoso¿, diz a especialista em educação superior da Universidade de São Paulo (USP) Eunice Durham. Para ela, a transação se assemelha ao que foi discutido recentemente na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a transformação da educação em serviço. Essa idéia não teve aprovação do governo brasileiro, mas é cada vez mais difundida no mundo.

¿Compra-se a universidade como se se estivesse comprando uma fábrica de sabonetes¿, completa Regina Vinhaes Grancindo, educadora da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE). ¿A grande questão é que o ensino superior deixa de ser entendido como direito e passa a ser entendido como mercadoria.¿ Para ela, a conseqüência da compra de ações de universidades pelo mundo pode ser a formação de grandes conglomerados nacionais e internacionais que controlariam o ensino.

CAPITAL ESTRANGEIRO A operação com a Anhanguera toca em outra questão discutida recentemente pelo Ministério da Educação (MEC): o capital estrangeiro em universidades brasileiras. O projeto de lei do governo de reforma universitária prevê que só 30% do capital da instituição poderá não ser nacional. Mas ela ainda não foi aprovada pelo Congresso. Além disso, nem integrantes do Banco Pátria nem do MEC sabem dizer se a operação do Bird configuraria investimento estrangeiro, já que o fundo é brasileiro.

Segundo o sócio-diretor do Banco Pátria, Ricardo Scavazza, o fundo já tem R$ 100 milhões - dinheiro que veio também de pessoas físicas. ¿Há empresas em dificuldade no setor, mas também há muitas rentáveis.¿ Ele adianta que já negocia a compra de ações e cotas de outras universidades, mas não revela nomes. O Pátria é especializado em gestão de investimentos.