Título: Polícia acredita que Ubiratan foi vítima de crime passional
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2006, Metrópole, p. C1
Depois de 24 horas de investigações, as provas reunidas pela polícia de São Paulo fazem os investigadores terem quase uma certeza: a morte do coronel da reserva da PM e deputado estadual Ubiratan Guimarães (PTB), de 63 anos, foi um crime passional. Essa suspeita levou aos homens do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) a investigar, por exemplo, a advogada Carla Prinzivalli Cepollina, de 39, namorada do político.
Mas o que levou os policiais a essa suspeita? O homem que foi processado por causa do massacre de 111 presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção morava sozinho em seu apartamento no 7º andar do prédio José Ferraz de Camargo na Rua José Maria Lisboa. Ele foi deixado em casa no sábado pelo motorista. Carla chegou ao prédio às 19 horas e permaneceu ali até as 20h30. Ontem, ela disse à polícia que, ao sair do apartamento, seu namorado estava vivo. Carla deve ser ouvida novamente hoje.
A polícia não fez exame residuográfico em suas mãos, porque ele seria inconclusivo depois de 48 horas, mas pediu à advogada para entregar as roupas que ela usava no sábado para serem examinadas. O DHPP busca vestígios de cobre ou chumbo que ficam nas vestes de quem usa uma arma de fogo.
Depois de Carla, ninguém mais viu o coronel com vida. Às 22 horas de domingo, seu chefe de gabinete, Eduardo Anastasi, achou o corpo. Ubiratan estava na sala do apartamento, enrolado numa toalha como se houvesse saído do banho. Tinha um único tiro no abdome. Aparentemente, o coronel estava sentado no sofá e tentou levantar-se quando foi baleado. A bala varou o corpo, provocando hemorragia, e parou numa almofada.
Nada foi roubado do apartamento. Em uma prateleira do bar, na sala, havia dois revólveres calibre 38 à vista de quem quer que ali entrasse. A carteira estava em cima do balcão e continha R$ 180. Ao seu lado, um copo usado com restos de batida de maracujá. Na cozinha, havia outro copo com a bebida. No quarto, a cama estava com os lençóis desarrumados.
Não havia sinais de arrombamento. A porta da entrada de serviço da casa estava aberta.Cerca de 20 impressões digitais foram recolhidas pela perícia, além de seis das sete armas que o coronel mantinha em casa - cinco revólveres calibre 38, uma pistola calibre 7,65 mm, uma espingarda calibre 12. Um dos revólveres desapareceu.
Jane Belucci, chefe dos peritos do DHPP, contou que o corpo estava rígido de tal forma que o crime devia ter ocorrido no mínimo 20 horas antes. Assim, Ubiratan foi assassinado na noite do sábado - os jornais de domingo estavam na soleira da porta de seu apartamento.
Amigos do coronel contam que a relação entre ele e Carla tinha altos e baixos. Eles teriam brigado. Ubiratan começara, então, a namorar uma delegada da Polícia Federal do Pará. No sábado, a delegada telefonou para o coronel. Como ele estava tirando um soneca, Carla atendeu o telefone, o que motivara uma discussão entre as duas. O DHPP vai pedir à Justiça a quebra do sigilo telefônico de Ubiratan e de Carla para saber quem ligou para o coronel e com quem ela conversou no sábado.
Horas depois do encontro do corpo, amigos lotaram o prédio. Buscavam informações. "Cherchez la femme (procure a mulher)", disse o advogado e deputado federal (PTB) Vicente Cascione, que defendeu o coronel no processo da Detenção. Cascione disse ter certeza de que o crime foi praticado por alguém próximo ao coronel.
"Ele não se deixaria surpreender assim. Se ouvisse algum barulho estranho ia atender à porta armado", disse o coronel da reserva da PM Niomar Cyrne Bezerra, ex-comandante de Ubiratan. "Não foi coisa de bandido. A gente conhece", afirmou outro amigo, o coronel da reserva Antônio Chiari. Oficialmente, o DHPP é cuidadoso. "Não descartamos nenhuma hipótese, embora a de execução seja a menos plausível", disse o delegado Armando de Oliveira Costa Filho. Além da hipótese passional, a polícia apura ainda uma possível vingança, que também seria passional.
Apesar das ameaças que sempre recebeu e do fato de o Primeiro Comando da Capital considerar Ubiratan um troféu, a polícia praticamente descartou que sua morte seja uma ação da facção. O governador Cláudio Lembo (PFL) disse que essa hipótese "é zero". "A Polícia Científica fez a análise do local e teremos mais clareza depois, mas certamente foi um crime de natureza pessoal."