Título: Brasil é o 3º em abertura comercial
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2006, Economia, p. B5
O Brasil é um dos três países mais abertos em termos de comércio num grupo de nove emergentes, selecionados em levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A tarifa média de importação aplicada pelo País é de 10,8%, a baixo da média de 15,1% do grupo. Os dados também refletem a diferença em relação ao grau de abertura da Índia, cuja tarifa de importação média é de 29,9%, quase o triplo da brasileira.
A comparação levou em conta países em desenvolvimento "relevantes em termos de expressão econômica" e também inclui China, Coréia, México, Rússia, Tailândia, Venezuela e Vietnã. As duas menores tarifas médias são das economias russa (9,8%) e chinesa (10,4%). Apesar de estar em terceiro lugar no grupo, o Brasil tem tarifa média superior à dos Estados Unidos e da União Européia, que não ultrapassam os 5%.
A gerente-executiva da Unidade de Negociações Internacionais da CNI, Soraya Rosar, comenta que o País é um dos mais abertos entre os emergentes. Mas reconhece que o fato de o Brasil estar abaixo da média dos países em desenvolvimento não significa que o País é "superaberto" pelo fato de que há outros "bem mais fechados que a gente". Levando em conta apenas a tarifa média industrial, a Coréia tem a tarifa média aplicada menor, de 7,4%.
Na comparação, chamam a atenção as diferenças entre Brasil e Índia, países que se reúnem hoje, em Brasília, para um entendimento bilateral.
"Na realidade, Brasil e Índia têm trabalhado em conjunto (na Rodada Doha), mas têm posições que não são comuns. O interessante é que, apesar disso, os dois países tenham conseguido pontos comuns para trabalhar juntos no G-20 (grupo de emergentes fortes em agricultura). O bonito do grupo está aí", disse Soraya.
Apenas para exemplificar, o Brasil tem uma atitude mais agressiva em produtos agrícolas, até mesmo com relação ao seu próprio mercado, "até porque sabemos que somos muito competitivos nesse setor", diz a especialista. Mas é defensivo nas negociações sobre o setor de serviços, área em que a Índia desponta e indica sinal mais claro de avanço. Já em relação à agricultura, os indianos são muito mais cautelosos.
A Índia tem pelo menos 600 milhões de pessoas em atividades ligadas à agricultura de subsistência e uma eventual abertura, na visão do país, provocaria efeitos diretos sobre o trabalho e a pobreza da economia local. No último fim de semana, durante reunião do G-20 no Rio, o ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, indicou a importância de discutir o "comércio justo", e não apenas livre. No evento, Brasil e Índia afirmaram que é justamente essa diversidade interna que dá credibilidade ao grupo de emergentes.