Título: 'Acordos bilaterais não são alternativa a Doha'
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2006, Economia, p. B6

O comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, disse ontem ao Estado que os acordos de livre comércio em andamento em Bruxelas ou em perspectiva não significam alternativas à Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), suspensa desde julho.

A mensagem surge justamente quando o Mercosul está prestes a retomar as conversas com a UE - que, igualmente, está disposto a iniciar negociações com a Índia. Ao final de um encontro com a diretoria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mandelson cobrou que esses acertos bilaterais tenham ambição bem mais elevada em termos de liberalização comercial do que o esperado na Rodada Doha, até mesmo nas áreas sensíveis, como a abertura dos setores têxtil e automotivo no Brasil.

"Enfaticamente, afirmo que esses acordos bilaterais não substituem a rodada. Nós estamos 100% comprometidos com a Rodada Doha como prioridade", declarou. "Mas um objetivo não exclui o outro. No acordo entre a União Européia e o Mercosul, nós poderemos certamente ir além do acordo entre os 149 membros da OMC. Isso deve ser uma verdade para os dois lados."

Na exposição na Fiesp, Mandelson advertiu que o acordo final de Doha poderá servir de "plataforma" para as negociações bilaterais. Mas, perguntado pelo Estado se a proposta apresentada pela UE na Rodada Doha, em julho, para o acesso aos mercados agrícolas poderia ser a base para a negociação com o Mercosul, ele disse que não negociaria em público . Essa oferta prevê o corte médio de 51,5% nas tarifas de importação de produtos agropecuários.

Nos dias 9 e 10 de outubro, em Bruxelas, os principais negociadores do Mercosul e da UE tentarão reativar as conversas. Essa negociação continua no limbo desde setembro de 2004, por conta do impasse nas áreas industrial - sensível aos sul-americanos - e agrícola - sensível aos europeus. Mandelson afirmou que Bruxelas está comprometida com a conclusão do acordo com o Mercosul.

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