Título: Volks propõe demissão em 11 etapas
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2006, Economia, p. B8

A Volkswagen do Brasil anunciou ontem um pacote de incentivos para convencer 3.600 funcionários de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a se desligarem da empresa. Em troca, a montadora se compromete a produzir dois novos veículos na fábrica e assim manter as operações na Anchieta, ameaçada de fechamento caso o plano de reestruturação não fosse concluído até o fim de 2008.

A proposta foi apresentada ontem aos dirigentes sindicais e aos trabalhadores e prevê melhores compensações para funcionários que se inscreverem primeiro no plano de demissões (PDV). Na primeira fase do programa, a montadora espera entre 1.300 e 1.500 adesões entre o pessoal da ativa, além dos 500 funcionários afastados desde 2003. Parte está em licença e parte faz cursos na empresa.

Na quinta-feira, os 12.400 funcionários vão decidir em assembléia se aceitam o plano. "Quando comparamos o que a empresa queria inicialmente e a proposta atual, há uma diferença muito grande. Se é suficiente ou não, os trabalhadores vão decidir", disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopes Feijóo. Antes, a empresa queria escolher quem sairia e oferecia 0,4 salário extra por ano de serviço.

Caso não consiga adesões ao plano, que será feito em 11 etapas, a montadora promoverá as demissões, mas sem incentivos. As negociações entre as partes ocorreram depois que a empresa suspendeu 1.800 cartas de demissão e os trabalhadores encerram greve de 3 dias.

A melhor oferta é para trabalhadores que aderirem ao PDV entre os dias 25 de setembro e 25 de novembro. Eles vão receber 1,4 salário extra por ano trabalhado. A partir desse período, há uma escala decrescente de incentivos. Um funcionário que tenha 10 anos de casa e salário de R$ 2.600 (média na fábrica) receberá R$ 36 mil extra, fora direitos normais.

Outras 1.600 vagas serão eliminadas em quatro etapas até o fim de 2008, com salários extras que variam de 0,8 a 0,3 por ano trabalhado. Dependendo das condições do mercado, a empresa poderá estender o fim do plano para 2010, mas mantém o corte de 3.600 vagas.

"O número foi mantido, mas a lógica é diferenciada, pois não haverá demissões de forma desrespeitosa, por cartas, mas por um programa que possibilita que deixe a fábrica quem estiver interessado em sair", ressaltou Feijóo. A direção da Volkswagen não deu declarações.

Segundo fontes do mercado, os dois novos modelos que serão produzidos na Anchieta em 2008 e 2009 seriam uma picape de médio porte e versões do projeto NF, uma família de produtos da nova geração do Gol já aprovada para Taubaté (SP).

A empresa também informou ao sindicato que deixará de produzir, em julho de 2007, o Fox Europa. Provavelmente a produção será concentrada na fábrica de São José dos Pinhais (PR), onde já é feito a versão para o mercado brasileiro e para exportação. Além de Fox, a Anchieta produz hoje Gol, Saveiro, Kombi Polo - que terá uma nova versão à venda este mês.

O Fox foi totalmente desenvolvido no Brasil e começou a ser produzido em 2003. O projeto inicial da montadora era exportar 100 mil unidades ao ano para a Europa, mas a empresa alega que a política cambial derrubou as exportações do modelo. A venda para a Europa deve ser encerrada em 2008.

BNDES

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, disse ontem que a Volks poderá reaver o empréstimo de R$ 497 milhões que foi suspenso depois que a empresa anunciou que poderia fechar a fábrica do ABC.

Segundo ele, a suspensão só ocorreu por causa dessa ameaça e não por causa das demissões. "Tínhamos conhecimento do plano de reestruturação mundial da Volkswagen e o fato novo foi a possibilidade de fechamento da fábrica, porque alguns investimentos do financiamento solicitado iam para a Anchieta. Perguntamos para a montadora se era fato que a unidade poderia ser fechada e a resposta que tivemos é que dependeria da negociação com o sindicato dos trabalhadores", explicou Fiocca.

"Aguardamos que a empresa informe sua decisão sobre investir no Brasil para que possamos adotar as medidas administrativas", disse Fiocca, sem informar qual seria o prazo de liberação do crédito.