Título: Estatal pode voltar a investir na Bolívia, indica ministro
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2006, Economia, p. B9

Quatro meses depois de anunciar a suspensão de investimentos na Bolívia, a Petrobrás pode retomar seus negócios naquele país. A possibilidade foi sinalizada ontem pelo ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, como uma moeda de troca para garantir que os preços do gás natural importado não tenham reajustes extracontratuais.

"Não estou dizendo que haverá uma retomada de investimentos na Bolívia, mas sim que estamos avaliando formas de ajudar a Bolívia. Não queremos que as negociações se restrinjam às discussões sobre o preço do gás. Acreditamos que existem outros termos para negociar", afirmou ele, no primeiro dia da Rio Oil & Gás, maior feira da América Latina do setor de petróleo, que ocorre no Rio.

Presente na entrevista, José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobrás, se esquivou de fazer qualquer comentário sobre o assunto. Indagado sobre a questão, limitou-se a dizer que não trataria das negociações da Bolívia via imprensa.

Segundo o ministro, haverá na próxima sexta-feira uma reunião entre os governos brasileiro e boliviano, em La Paz, com participação da Petrobrás e da YPBF. "Será uma retomada das negociações", afirmou.

Segundo ele, os outros termos de discussões que serão levados à reunião incluem, por exemplo, a utilização de biodiesel no combustível usado na Bolívia, ou mesmo reavaliação de projetos antigos, que foram abandonados após a estatização das reservas de gás, em 1º de maio deste ano.

À época, a Petrobrás tinha algo em torno de US$ 2 bilhões previstos para serem aplicados na Bolívia. Entre os principais projetos, estava a ampliação do gasoduto Brasil-Bolívia, a construção de um pólo petroquímico em parceria com a Braskem na divisa com o Brasil, e investimentos para ampliar a produção local, que já está em sua capacidade máxima para cumprir os contratos de fornecimento.

"Houve o decreto de estatização, que está sendo regulamentado. Desde que fique clara a regra para quem atua no país e que nos sintamos seguros, não há por que não investir. Mas vamos esperar que haja esta regulamentação para decidir qualquer coisa", afirmou, considerando ainda que a crise boliviana contribuiu "positivamente" para que o Brasil iniciasse a busca pela independência no fornecimento de gás natural.

Rondeau ressaltou a "habilidade" da Petrobrás em lidar com a situação, revertendo investimentos previstos anteriormente para antecipar a exploração e produção em outros campos de gás no Brasil.