Título: Petrobrás tem 10 bilhões de barris para explorar
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2006, Economia, p. B9

A Petrobrás calcula ter pelo menos 10 bilhões de barris de petróleo e gás em sua carteira de concessões exploratórias. Se confirmado, o volume é suficiente para quase dobrar as reservas brasileiras, atualmente em 13 bilhões de barris. Segundo o gerente executivo de Exploração e Produção da companhia, Paulo Mendonça, a estimativa é conservadora, pois leva em conta uma taxa de sucesso exploratório em torno de 10%, enquanto a média mantida atualmente pela estatal chega a 50%.

As novas reservas, porém, só entrarão em operação a partir de 2015. Até lá, a estatal tem outros 6,6 bilhões de barris de óleo e gás, descobertos nos últimos quatro anos, para pôr em produção. Esse volume, disse Mendonça, será o bastante para garantir a auto-suficiência nacional até meados da próxima década. Para extraí-lo do subsolo, a estatal planeja 56 novos projetos de produção de petróleo e gás. "A auto-suficiência está garantida até 2015 com as descobertas que fizemos até 2005", destacou o executivo, em palestra na feira Rio Oil & Gas.

Os 10 bilhões de barris em reservas novas estão nos 160 mil quilômetros quadrados de concessões exploratórias da empresa. A maior parte desse volume (73%) refere-se a jazidas de óleo e o restante a gás natural. Para Mendonça, a próxima grande província produtora do País será descoberta na Bacia do Jequitinhonha, na Bahia, onde a empresa já procura reservas. Hoje a maioria das jazidas está concentrada em Campos, Santos e no Espírito Santo.

O gerente da Petrobrás reclamou que as novas regras impostas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), como a redução da oitava rodada de licitações e a imposição de um limite de ofertas por participante, pode prejudicar novas descobertas. "A diminuição do número de blocos reduz as chances de descobertas", concordou o vice-presidente de Exploração e Produção da Shell Brasil, John Haney, para quem mudanças nas regras do leilão reduzem a credibilidade do País no exterior.

Após ouvir as críticas, o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, admitiu rever o limite de ofertas por operador, que prejudica principalmente a Petrobrás. "Desde que hajam argumentos consistentes, as questões podem ser revistas." Uma das alternativas, disse Lima, é limitar o número de aquisições, e não de ofertas, por empresa. A proposta inicial prevê que cada operador só possa fazer ofertas por quatro áreas, no máximo, em cada setor. Se perder as quatro, fica sem concessões.

"Nossa idéia é evitar a concentração em determinadas áreas. Com um limite de aquisições, as empresas terão de ir para regiões menos exploradas", afirmou Lima. Segundo ele, a política será mantida, mesmo se a ANP recuar na imposição de um limite. "Todo mundo quer ficar onde já tem petróleo, todo mundo quer ficar em Campos. E isso não serve ao interesse nacional", conclui.

INFRA-ESTRUTURA

Durante o evento, dificuldades para o licenciamento ambiental foram apontadas por executivos com um dos principais entraves ao desenvolvimento do setor de petróleo. Porém, para o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio Roberto Langone, o licenciamento ambiental é usado como desculpa para a não realização, por outros motivos, de investimentos no setor de infra-estrutura.

"Estamos cansados de ser usados como bodes expiatórios para a não realização de investimentos que obedecem a outros interesses, de mercado." Segundo Langone, a priorização de projetos para a análise de licenciamento ambiental deve estar vinculada ao compromisso de efetiva construção.

De acordo com ele, vários empreendimentos do setor de infra-estrutura que reclamavam da demora do licenciamento ambiental não chegaram a ser realizados após as licenças terem sido concedidas, como térmicas e a rodovia BR-163. Langone disse também que gasodutos chegaram a ser construídos, mas estão ociosos. "A priorização de térmicas não construídas e gasodutos sem gás dentro deixou na fila projetos que hoje eles reclamam."