Título: 'Centro deve ser combate à exclusão'
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2006, Nacional, p. A5

Quando assumiu o Ministério da Educação, em 2004, o atual ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, deixou clara sua posição contrária às cotas raciais nas universidades e no mercado de trabalho. Na época, o governo era favorável às cotas e ele silenciou. Agora, quando o governo recua, ele é o encarregado de esclarecer a nova posição, como mostra em entrevista ao Estado.

Como o governo vê a proposta do Estatuto da Igualdade Racial?

É uma boa iniciativa. Mas as discussões têm de ser aprofundadas. A negociação deve ser feita de maneira menos ideológica, quem sabe menos vinculada às questões de origem étnica e mais vinculada às questões que derivam da exclusão social. O grande problema do estatuto é menos sua aprovação e mais a sua legitimização posterior, para que não cause uma dissidência política sobre a questão racial. A sociedade brasileira, embora tenha traços de discriminação racial, não é uma sociedade racista e tem características diferentes daquilo que aconteceu nos Estados Unidos e na África do sul, onde existiam leis que legalizavam a segregação racial.

Como o governo vê as propostas de políticas afirmativas?

Um governo republicano tem de ver com simpatia essas políticas, de cotas ou com outras características. O perigo é de se perder o centro da discussão. No Brasil existe uma formidável coincidência entre afrodescendência e exclusão. O centro dessas políticas deve ser o combate à exclusão social, usando para isso também as cotas sociais, mas não só.

Qual é a posição oficial do governo em relação a cotas?

Oficialmente, a posição está retratada nos dois projetos que já remeteu (ProUni e cotas nas universidades federais). A política afirmativa que trata da coesão social e não tem como ponto de partida a questão racial, e sim a política de cotas sociais, para que as camadas populares tenham maior possibilidade de ascensão social, permitindo uma renovação das elites. Uma política democrática que não suscita nenhuma questão racial.